Para EY, Brasil pode ser referência em transição energética

24/06/2024
O volume de recursos movimentados por países que possuem um mercado de mineração mais estruturado foi três vezes maior

 

Segundo um estudo recente da consultoria e auditoria EY em parceria com o Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM) sobre a atratividade da mineração no Brasil, há destaque para o potencial geológico, a disponibilidade de minérios e metais necessários para a transição energética, as medidas de descarbonização e a disponibilidade de capital de um setor, que produz mais de 90 minerais que geram receitas anuais superiores a US$ 50 bilhões. O mapeamento geológico atualmente descreve apenas 27% do território brasileiro em escalas adequadas para decisões de investimentos em prospecção mineral e melhorar o ecossistema de pesquisa geológica e os modelos de financiamento para a exploração são cruciais, já que o Brasil tem apenas 19 centros de pesquisas de tecnologia e inovação em geologia.

Onze dos principais minerais produzidos no Brasil (ferro, ouro, cobre, níquel, alumínio, estanho, manganês, nióbio, zinco, cromo e vanádio) somam aproximadamente 90% do valor da produção total, além daqueles considerados estratégicos para o desenvolvimento de tecnologias de transição energética, como o lítioníquelgrafite e minerais terras raras.

O levantamento aponta que a matriz energética brasileira já conta com 87% do seu total gerado a partir de fontes renováveis, segundo os dados da Agência Internacional de Energia (IEA). Além disso, o Plano Decenal de Expansão de Energia do governo brasileiro prevê um crescimento da capacidade total instalada em cerca de 19% até 2030. A expansão da matriz renovável acontecerá com a construção e consolidação de hubs de hidrogênio de baixo carbono em todas as regiões do País. O Brasil possui vantagens competitivas para a sua geração, e o Plano de Trabalho Trienal 2023-2025 do Programa Nacional do Hidrogênio (PNH2) identificou US$ 30 bilhões em projetos de hidrogênio anunciados para o Brasil, em diferentes estágios de maturação. “É necessário comentar que tanto as grandes e pequenas companhias estão lidando com um ponto muito forte de inflexão. As práticas ESG estão se tornando uma prioridade cada vez maior para stakeholders e investidores. O crescimento acentuado desta bandeira tem forçado o setor a se adequar a um modelo produtivo necessariamente mais verde”, diz Afonso Sartorio, líder de Energia e Recursos Naturais da EY.

Outro aspecto positivo destacado pelo estudo é a evolução da Licença para Operar (LTO). À medida que o envolvimento comunitário e a sustentabilidade ambiental se tornaram fatores críticos na operação minerária, o conceito evoluiu para o de Licença Social para Operar (SLO), deixando de ser uma permissão formal para explorar e passando a ser uma questão de aceitação e confiança da comunidade na capacidade do projeto em promover o desenvolvimento comunitário e territorial. Na última edição do estudo “Top 10 Risks and Opportunities in Mining & Metals”, em 2024, LTO ocupou a 1ª posição entre os respondentes do Brasil (e a 3ª posição globalmente), demonstrando a preocupação do setor local em contribuir para o desenvolvimento social, econômico e institucional das comunidades e do território.

O volume de recursos movimentados por países que possuem um mercado de mineração mais estruturado foi três vezes maior quando comparado ao volume movimentado no Brasil. Neste período, as empresas brasileiras do setor de mineração captaram um total de US$ 9,6 bilhões – cerca de 81% em dólar. As emissões das grandes empresas representam 74% desse total. Já as empresas menores captaram apenas US$ 722 milhões em moeda brasileira, o que representa apenas 8% do volume total. “As empresas maiores possuem projetos em diferentes fases de operação e, portanto, captam com riscos e garantias corporativas. Com isso, conquistam mais confiança do mercado, têm acesso a um maior número de investidores e maiores montantes. As empresas menores, que tipicamente possuem todos os fluxos atrelados a um projeto pré-operacional, acabam tendo o seu custo de captação agravado por conta dos riscos inerentes ao empreendimento”, explica Sartório. O estudo conclui que o esforço coordenado entre governo, indústria, academia e sociedade pode posicionar o Brasil como líder na produção de minerais estratégicos, e afirma que esse caminho envolve inovação contínua, investimentos estratégicos e um compromisso inabalável com a sustentabilidade e a responsabilidade social.