Emissões líquidas de carbono zero em 2040?

19/06/2023
Estudo aponta que isto é tecnicamente viável, pelas estratégias

 

O think tank alemão Agora divulgou relatório que afirma que o seto siderúrgico pode alcançar emissões líquidas zero até o início da década de 2040. O estudo aponta que isto é tecnicamente viável pelo fato das estratégias adotadas, como a eficiência no uso dos materiais, o aumento da reciclagem, a produção de aço com base em hidrogênio verde, além da bioenergia e de algumas abordagens de captura e armazenamento de carbono. "Nosso estudo mostra que é hora de remover o rótulo 'difícil de abater' do setor siderúrgico", disse Frank Peter, diretor da Agora. "As tecnologias e estratégias necessárias para atingir o zero líquido já existem - agora os governos e as empresas precisam combinar seus esforços para implantá-las rapidamente”.

A análise é uma das primeiras a traçar um cenário viável em que o ferro e o aço deixam de ser um setor difícil de descarbonizar, o que favorece a ambição climática global. Segundo o relatório, o Brasil é o segundo maior exportador de minério de ferro, com 22%, atrás apenas da Austrália, com 53%, e está bem à frente dos últimos três fornecedores internacionais relevantes: África do Sul (4%); Canadá (3%) e Ucrânia (3%). Para o relatório, o Brasil tem a maior capacidade de produção de hidrogênio verde, já que a obtenção ‘limpa’ desta gás depende da disponibilidade de energia renovável, um ativo que tem se fortalecido no país com o crescimento solar e eólico. A recomendação do relatório é que em vez de tentar exportar hidrogênio verde, países exportadores de ferro como o Brasil deveriam se preparar para investir em "hidrogênio incorporado" na forma de ferro e aço verdes. “As exportações de ferro verde proporcionarão novas oportunidades aos países que planejam exportar hidrogênio renovável ou de baixo carbono, criando mais empregos no mercado interno e permitindo que os países capturem uma parte adicional de valor agregado da cadeia de valor da siderurgia”, explica o relatório. “Em comparação com o cenário em que esses países exportariam minério de ferro e hidrogênio e seus derivados por navio, a exportação de ferro verde poderia permitir um ganho de cerca de 16% em empregos locais e um aumento de 18% no valor agregado.”

O relatório aponta ainda que o comércio de ferro verde pode reduzir os custos da transformação global do aço, tornando-se vantajoso para exportadores e importadores, pelo fato do transporte de hidrogênio incorporado como ferro verde ser significativamente mais barato do que o transporte de hidrogênio e seus derivados por navio. Para os importadores, o ferro verde pode aumentar a competitividade da produção de aço com baixo teor de carbono, ajudando assim a manter os empregos locais no setor siderúrgico. Para impulsionar este cenário, os analistas da Agora recomendam a construção de parcerias entre exportadores e importadores. A Austrália está na vanguarda ao estabelecer, em 2021, uma cooperação internacional em aço verde com a Coreia do Sul, seu terceiro maior cliente. "A década de 2020 é uma grande encruzilhada para o setor siderúrgico global. As decisões corretas sobre políticas e investimentos hoje evitarão o aprisionamento de alto teor de carbono e ativos irrecuperáveis e nos colocarão no caminho de investimentos compatíveis com zero líquido que podem garantir o futuro do setor e de seus empregos", projeta Peter.

O relatório destaca também as abordagens que não terão êxito nesta corrida tecnológica, como a captura e o armazenamento de carbono (CCS) combinado à energia do carvão, que “não desempenhará um papel importante na transformação global do aço”, diz o texto. Segundo o estudo, “as novas usinas siderúrgicas baseadas em carvão enfrentarão um alto risco de aprisionamento de carbono e de ativos irrecuperáveis”.

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