Planta retira 34 vezes mais de solos contaminados

14/10/2022
A pesquisa foi realizada no estuário do Rio Doce, local impactado pela deposição de rejeitos liberados após o rompimento da Barragem do Fundão.

 

Segundo pesquisa de cientistas da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq-USP) e colaboradores, a taboa, uma vegetação aquática de aproximadamente 2,5 metros de altura, pode retirar de solos contaminados até 34 vezes mais manganês do que outras plantas encontradas em ambientes semelhantes, como o hibisco e o junco. A taboa acumulou, respectivamente, dez e 13 vezes mais manganês, quando comparada a estas outras duas plantas. O artigo foi publicado no Journal of Cleaner Production. 

O documento mostra que a Typha domingensis, nome científico da taboa, é altamente eficiente na fitorremediação de manganês, micronutriente potencialmente tóxico e com grande risco ecológico. A planta apresentou concentrações de 6.858 miligramas por quilo (mg/kg) de manganês na parte aérea, enquanto outras espécies acumulam, em média, 200 mg/kg. A pesquisa foi realizada no estuário do Rio Doce, distrito de Regência (ES), local impactado pela deposição de rejeitos liberados após o rompimento da Barragem do Fundão, em novembro de 2015, em Mariana (MG). Na ocasião, o rompimento impactou 41 cidades em Minas Gerais e no Espírito Santo, matou 19 pessoas, e os rejeitos de minério de ferro chegaram ao estuário cerca de duas semanas depois. A degradação ambiental atingiu pelo menos 240,8 hectares de Mata Atlântica e resultou em 14 toneladas de peixes mortos. Várias ações vêm sendo adotadas desde então para tentar reduzir os danos, mas a contaminação no estuário ainda persiste. 

O estudo mostrou que a capacidade de extração da taboa no estuário do Rio Doce chegou a 147 toneladas do minério, o que representa a remoção de 75,7 toneladas por hectare (t/há). Outro trabalho realizado no mesmo local e publicado em janeiro deste ano já havia demonstrado a capacidade de a taboa remover grandes quantidades de ferro do ambiente quando comparada ao hibisco (Hibiscus tiliaceus), que mede de 4 a 10 metros e tem flores amarelas. “Estamos trabalhando no Rio Doce desde 2015. Conseguimos chegar a um nível de entendimento da dinâmica geoquímica de vários metais encontrados nos rejeitos, como ferro, manganês e outros elementos potencialmente tóxicos. Isso nos dá a oportunidade de avançar em estratégias mais adequadas para remediação dessas áreas contaminadas. O acúmulo desse conhecimento permite não só avançar na recuperação de regiões degradadas como também na busca por estratégias de agromineração, contribuindo com uma exploração mineral mais sustentável”, explica Tiago Osório Ferreira, professor do Departamento de Ciência do Solo da Esalq-USP e orientador do trabalho. 

A técnica de fitorremediação aplicada conseguiu reduzir o impacto em áreas afetadas por minérios removendo partes das plantas que acumulam esses componentes. Já a agromineração, que consiste no uso de estratégias agronômicas para cultivar plantas com capacidade de extração de metais e depois, a partir da biomassa dessa vegetação, concentrar aquele componente, diminuindo o impacto ambiental, é pouco usada no mundo atualmente, tendo alguns trabalhos em andamento na Austrália, por exemplo. 

De acordo com o estudo atual, o acúmulo de manganês nas raízes e placas de ferro da taboa foi de 18 mg/kg e 55 mg/kg, respectivamente. A absorção de matéria orgânica pelas plantas favorece a dissolução de óxidos de manganês e a liberação de prótons pode desencadear a dissolução do carbonato de manganês. Por outro lado, as plantas aquáticas também podem oxidar suas rizosferas (região onde o solo e as raízes entram em contato) devido ao transporte interno de oxigênio. Esse processo pode diminuir a biodisponibilidade de manganês.

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