Participação é crescente, mas ainda desproporcional

08/03/2023
Participação é muito contrastante quando se considera outros setores da economia

 

Por Maria Amélia Enriquez *

A questão do gênero na mineração tem adquirido importância crescente e para abordar este tema deve-se considerar três pontos:  1) os números, 2) a importância e 3) as alternativas.

Números

O IBGE estima que 51,1% da população brasileira seja do sexo feminino, e que 48,9% masculino. Portanto, a maioria absoluta do povo brasileiro é composta por mulheres.

Pela ótica da formação universitária, a participação feminina tem sido crescente. Em 2010, elas representavam 54% dos estudantes de graduação, percentual que passou para 57% em 2021, segundo o Censo da Educação Superior (INEP, 2022). Mesmo nas áreas tecnológicas a presença feminina na formação universitária, embora ainda não seja a maioria, é crescente: em 2020 respondiam por 47%, passando para 49% em 2021.  E essa crescente participação ocorre a despeito da existência de qualquer política de inclusão focada exclusivamente para as mulheres.

 Obviamente que ainda há nichos eminentemente masculinos, como o caso das áreas denominadas STEAM, que é um acrônimo em inglês que designa as áreas de ciências, engenharia, tecnologias, artes e matemáticas. E há também as questões regionais. Na Universidade Federal do Pará, por exemplo, a presença feminina no Instituto de Tecnologia, (ITEC) é de apenas 29%; no curso de engenharia civil as mulheres respondem por apenas 22%, na engenharia mecânica por apenas 12%, embora no caso das geociências essa proporção seja um pouco mais equilibrada, com 42% de participação feminina.

Mas, a despeito dessa crescente formação acadêmica, a presença de mulheres no mundo mineral ainda é muito desproporcional. De acordo com o Relatório Women in Mining Brasilhttps://www.wimbrasil.org/wp-content/uploads/2022/04/Report_WIM_2021-EN-v2.pdf ) a média nacional de mulheres na mineração é de 15%, com variações conforme a categoria do cargo, se administrativo (16%), ou se cargos de gerência (11%) . Essa participação é muito contrastante quando se considera com os setores da economia em que a participação feminina alcança mais de 40% no mercado formal (IBGE).

Importância

Para além de ser uma questão de proporcionalidade, o tema da equidade de gênero é tão importante que é o 5º. Objetivo do Desenvolvimento Sustentável (ODS), o qual foi ratificado por mais de 180 países ,em 2015, cuja proposta é de que até 2030 o mundo deve “acabar com todas as formas de discriminação contra todas as mulheres e meninas em toda parte”, e para isso há uma série de metas a cumprir , como , por exemplo, “garantir a participação plena e efetiva das mulheres e a igualdade de oportunidades para a liderança em todos os níveis de tomada de decisão na vida política, econômica e pública”.

No mundo corporativo, é amplamente reconhecido que a presença das mulheres nas organizações contribui favoravelmente para a melhoria da reputação da empresa, para captar e reter talentos. Mulheres nas organizações influenciam positivamente na criatividade empresarial e tudo isso impacta positivamente nos ganhos das empresas, ou seja, se reverte em lucro.  Além disso, faz parte da trajetória histórica, social e cultural do universo feminino estar mais próximo de questões associadas ao diálogo, conciliação de conflitos, empatia, busca para formação de consensos, preocupação com uso racional de recursos, entre outros que são valores que vêm ao encontro de politicas como as do ESG, tão estratégico para as empresas na atualidade, que repercute positivamente na busca pela “licença social para operar”, que hoje é um aspecto crítico para as empresas de mineração.

Mas as mulheres ainda enfrentam muitos desafios: da dupla jornada e do acúmulo de tarefas, principalmente quando são mães, e ainda recebem menos que os homens para exercerem a mesma função. Essa situação se agrava no caso de mulheres pretas.

Alternativas

Por isso, o país ainda não pode prescindir de políticas afirmativas que permitam o florescimento e o empoderamento dessas mulheres. A existência de mais creches (inclusive no ambiente do trabalho), sala de amamentação, flexibilidade nos horários de trabalho, salários equivalentes, políticas explícitas que valorizem a presença das mulheres e, acima de tudo, o respeito. Enfim, tudo isso e a necessária mudança de mentalidade da sociedade, inclusive de muitas mulheres, é que pavimentará o caminho para uma sociedade e ambiente corporativo mais justos, fraternos e prósperos que todos homens e mulheres almejamos!

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Maria Amélia Enriquez é PhD em Desenvolvimento Sustentável, professora da UFPA, membro do Conselho Consultivo de Brasil Mineral