“Mãe da Florah e estudante da vida” – é assim que Lívia Mandelli, Ph.D em Comportamento Humano/Neurociência e Embaixadora da Parentalidade no Brasil, entre outras atribuições, se define. Autora de diversos livros, Lívia conversou com a revista Brasil Mineral sobre a temática da diversidade e inclusão como um todo, mas também pontuando exemplos de ações que estão sendo implementadas pelas companhias no setor de mineração.
Saber o que precisa ser feito é essencial, mas é muito mais importante saber o que não se deve fazer. A contratação é a última etapa dentro de um processo que busca construir de fato um ambiente mais diverso e inclusivo, que valorize o que as pessoas são. Lívia também alerta que apesar de as contratações de mulheres terem subido de 32% para 43% no setor mineral, o desligamento aumentou 16 pontos percentuais em 2023, “pois estamos errando no jeito como estamos fazendo. Colocar mais mulheres dentro de um ambiente está longe de ser diversidade”.
BRASIL MINERAL – Qual o cenário atual da diversidade de gênero dentro do segmento de mineração?
LÍVIA MANDELLI – Tenho trabalhado para grandes mineradoras no país tanto em programas de liderança quanto de equidade, dentro da diversidade de gênero, e a mineração, dentro da cadeia de valor, é um dos maiores desafios no que tange à equidade. O número de denúncias de assédio e de comportamento machista é alto, por ser uma indústria onde tem mais homens que mulheres. Mas este não é um problema da mineração em si, mas porque existe de fato um acúmulo maior de homens e, generalizando, os homens ainda não estão preparados para um mundo mais equitativo. Então, é óbvio que na mineração aparecem os problemas de forma mais aberta do que, por exemplo, do outro lado da cadeia de valor, em investimentos, onde se tem mais homens e mulheres trabalhando juntos. O que vemos hoje na indústria mineradora do País, segundo o último relatório do Women in Mining Brasil, é que as contratações de mulheres aumentaram muito, porque as mineradoras já perceberam que não dá pra ficar no mundo só masculino se a maior parte da nossa população brasileira é feminina. Mas ao mesmo tempo em que há um volume de contratação, elas não ficam. A grande discussão no momento não é quantas mulheres estão conseguindo colocar para dentro das empresas e nem falar também de retenção.
BRASIL MINERAL – O que fazer então para que essas mulheres queiram trabalhar em mineradoras?
LÍVIA MANDELLI – Diversas esferas precisam ser discutidas, como: qual a preparação do ambiente que eu faço para que essas mulheres queiram trabalhar no segmento de mineração e que se sintam valorizadas e respeitadas como seres humanos? O uniforme está adaptado para a mulher? Tem banheiro feminino na operação de subsolo? Como essas mulheres estão sendo tratadas, tanto na superfície quanto no subsolo das minas? O quanto essas mulheres estão sendo vistas como potenciais enquanto estão dirigindo ou pilotando uma supermáquina? Não adianta começar a questão da diversidade se não houver a preparação do ambiente. Sem isso, acontece a contratação, mas essa mulher sofre, fica doente e sai. Além da preparação do ambiente físico, é preciso a preparação do ambiente social, o que exige muita conversa com os homens que já estão na mineradora e também com suas famílias. Existem também as questões de respeito, de educação e de relacionamento com essas mulheres antes da contratação. Dentre essas estratégias é preciso que haja uma prática inclusiva. Por exemplo, a mulher que está amamentando tem um espaço para levar e deixar a criança ou para tirar o leite enquanto está trabalhando? São assuntos que precisam ser falados dentro de uma indústria mineradora.
Veja a entrevista completa na edição 437 de Brasil Mineral