O desafio de atrair investimentos para o setor

30/06/2023
Painel “Novos Mecanismos de Financiamento e Atração de Investimentos na Mineração”, realizado na manhã do dia 28/6.

 

Se quiser ser um grande player de mineração, o Brasil precisa criar mecanismos de financiamento e um ambiente de negócios favorável. Foi o que afirmou Miguel Nery, moderador do painel “Novos Mecanismos de Financiamento e Atração de Investimentos na Mineração”, realizado na manhã do dia 28/6, no 8º. Encontro da Média e Pequena Mineração, que contou com a participação de Pedro Paulo Dias Mesquita, gerente de Inteligência de Mercado de Mineração e Transformação Mineral, do BNDES, Edson Del Moro, Country Manager da Hochshild no Brasil, Ricardo Ré, da Hand Bag, Leonardo Resende, Superintendente de Relacionamento com Empresas na B3 e Luís Maurício, da ABPM. 

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Inicialmente, Miguel Nery, explicou o papel desenvolvido pela Invest Mining, “uma rede colaborativa que tem parcerias com diversas frentes para constituir um núcleo que melhore o cenário atual da mineração brasileira”. 

Segundo Nery, a transição energética vai acelerar a substituição de veículos à combustão por modelos elétricos e a Invest Mining vai gerar novos mecanismos de investimentos para melhorar o diálogo com o governo e atrair investimentos. “Temos trabalhado com a B3 para ver a possibilidade de desenvolver um venture capital semelhante ao que acontece no Canadá, além de ter um incentivo fiscal do Governo Federal para alavancar projetos”. 

Pedro Paulo, do BNDES, reforçou a necessidade do financiamento para a mineração e isto tem que acontecer via alinhamento estratégico com a transição energética e segurança alimentar. ”O Plano Nacional de Fertilizantes prevê uma redução de dependência externa de 85% para algo em torno de 40%. Em termos de política mineral brasileira, precisamos valorizar e aproveitar racionalmente os recursos minerais, por meio de um desenvolvimento sustentável e atração de investimentos, para gerar emprego e renda para a população e o CNDI, Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial para uma agenda de fortalecimento da indústria de minerais estratégicos”. 

Ele explicou que o BNDES tem como foco a reindustrialização e a transição justa para uma economia de baixo carbono. “Até 1997, o BNDES apoiou a pesquisa mineral e suportamos a necessidade de capital para colocar de pé os grandes projetos minerais brasileiros. Temos a missão de voltar a contribuir com projetos em estágios mais iniciais. “Na última década apoiamos 1.800 empresas, com R$ 8,3 bilhões em 1.100 municípios”. Pedro Paulo comentou a Visão 2023 do BNDES, que visa expandir a produção de minerais críticos necessários para atender às demandas da transição energética e segurança alimentar; fomento a projetos greenfield destes minerais e diversificação da produção, com o intuito de maior geração de divisas, arrecadação, emprego e renda, além do fortalecimento e apoio a projetos inovadores e mais sustentáveis. Outro ponto são as práticas ESG com impacto socioambiental positivo da mineração, com transformação social em regiões vulneráveis. Pedro Paulo diz que é preciso recuperar áreas degradadas, que atualmente são cerca de 40 milhões de hectares de pastagens, com baixa produtividade, mas que possuem aptidão para a agricultura e devem ser restauradas, ampliando a produção, sem a necessidade da conversão de novas áreas. 

Dentre as soluções financeiras disponíveis pelo BNDES, Pedro Paulo apresentou o FINAME direto, uma linha de crédito para aquisição de máquinas e equipamentos com financiamento, comercialização, ou produtos de itens credenciados no BNDES; o Fundo Clima, programa vinculado ao Ministério do meio Ambiente (MMA) para financiamentos de projetos voltados à mitigação das mudanças climáticas, onde a instituição atua como operador dos recursos destinados a créditos; o BNDES FUNTEC, para promover investimentos em P,D&I com a parceria do EMBRAPII, o Fundo de Crédito para a Indústria e Serviços, o mais recente, que funciona como financiamento de uma grande empresa em parceria com o BNDES para uma pequena empresa e o Crédito ASG que está linkado aos parâmetros atingidos pelas empresas. “Os anúncios recentes para fortalecimento da indústria englobam taxa fixa em dólar para clientes com hedge de receitas atreladas à moeda americana, as condições favoráveis para inovação, onde se aplica uma taxa TR inferior a 3% e redução de juros para as MPMEs exportadoras”. 

Sobre os desafios do capital de funding para pesquisa mineral e desenvolvimento de minas, há o risco geológico na etapa de pesquisa, o que pode prejudicar a mobilização de recursos e ampliar o tempo do empreendimento. Na fase de desenvolvimento da mina – diante de consideráveis riscos de engenharia e de mercado -- a maior intensidade de capital é um desafio de captação. “Precisamos da inserção da mineração no mercado de capitais, já que o Brasil é jurisdição comprovada para a mineração”. 

Indagado se o BNDES já conseguiu operar utilizando as garantias da ANM, Pedro Paulo respondeu que “O BNDES conseguiu utilizar estes financiamentos, onde a empresa já tem concessão de lavra quando pegamos um conjunto de garantia, pois os direitos minerários integram essas garantias, antes mesmo da nova regulamentação. Para usar agora, precisamos de projetos em estágios iniciais”. 

Leonardo Resende, Superintendente de Relacionamento com Empresas na B3, informo que a bolsa brasileira é a quarta em liquidez no mundo e que ela está atrasada no setor de mineração, perdendo uma série de investimentos. “A Bolsa está acessível e aberta para todas as empresas brasileiras, com pré-especificidades para empresas juniors em fase pré-operacional, mas temos caminho aberto para listagens de ações, debêntures, securitização, para que negócios se viabilizem. Precisamos educar o investidor brasileiro, para atraí-lo”. 

Na sequência, Luís Azevedo disse que o minerador tem um grande mercado na transição energética. “Tudo está na transição energética e quem está em mineração tem três possibilidades - Vender, operar ou morrer, e a mineração permite fazer isso com maior rapidez, mas não conseguimos atrair por causa do financiamento”. 

Para Azevedo, o problema é convencer o investidor do risco do país onde se atua e com a B3 se elimina isso. “Em contrapartida, nós ganhamos sócios para ter mais aportes de capital, além do próprio brasileiro ganhar com isso. A mineração não pode se contentar em dividir os proventos com impostos, contribuições e empregos. Temos mais a dar. Estamos assegurando longevidade e condição de vida para nossa população”. 

Ricardo Ré, da Hand Bag, disse que sua empresa é a primeira fintech especializada em viabilizar projetos de mineração. “O Brasil é a bola da vez para o setor mineral global em projetos de transição energética e descarbonização, pois somos um continente de oportunidades mineral para resolver os desafios do planeta no século XXI”. 

Para Ricardo, o foco da Hand Bag é acelerar projetos embrionários e estudar sua viabilidade, respeitando as normas internacionais, que regulamentam o setor mineral. “Podemos acelerar projetos de pequenas e médias empresas que buscam financiamentos de até R$ 15 milhões por ano, valor que é um divisor de água para projetos embrionários”. Ele diz que a Hand Bag está pronta para viabilizar projetos que serão operacionalizados por grandes grupos. “Vamos democratizar o investimento na mineração”. 

Por último, Edson Del Moro, Gerente Nacional na Hochschild, abordou o projeto greenfield Mara Rosa, em implementação em Goiás, e que foi iniciado, em maio de 2022, após a aquisição da Amarillo Mineração do Brasil. A produção está prevista para começar no primeiro semestre de 2024. 

“Este é o primeiro projeto greenfield no estado de Goiás sem barragens, com 100% do rejeito empilhado e reservatório de água revestido, com movimentação de 20 milhões de toneladas/ano de ouro”. Segundo Del Moro, 1.900 pessoas trabalham no projeto e a cidade vive uma pujança. O financiamento do projeto é internacional e isto precisa ser revertido. “Três projetos que participei tiveram mais de R$ 10 bilhões em investimentos e precisamos de incentivos, de financiamento, para transformar as regiões onde operamos”.