Engenheiro troca a aposentadoria pelo cargo de CEO na empresa que revolucionou a metalurgia do aço

11/06/2024
“Agora se fala no uso do hidrogênio verde para a produção de aço, mas não há hidrogênio disponível para dar conta de produzir 2 bilhões de toneladas de aço por ano"

Trocar o “pijama de aposentado” pelo cargo de CEO em uma das empresas mais inovadoras do mundo, que desenvolveu uma tecnologia pioneira para produção de aço e outros metais sem emissão de carbono. Esta foi a opção do engenheiro metalurgista Tadeu Carneiro, após 40 anos de uma carreira brilhante, que incluiu o cargo de presidente da CBMM, líder mundial na produção de nióbio.

Ao invés de usufruir do merecido descanso a que fazia jus, ele decidiu se juntar ao time da Boston Metal, empresa que, segundo suas próprias palavras, “foi criada para revolucionar a metalurgia em geral e a metalurgia do aço em particular, transformando a maneira (milenar) como se produz o aço, evitando o uso de carbono como elemento de redução”. A empresa é um spin-out do tradicional MIT (Massachusetts Institute of Technology), como uma startup que tinha em sua equipe apenas alguns “visionários”, que desenvolveram a tecnologia pioneira, agora patenteada mundialmente.“Eu realmente acredito na ciência”, diz o engenheiro, justificando sua decisão. Ele critica as pessoas que negam o aquecimento global, “que mata lentamente e não suficientemente rápido como um vírus. Por isso me engajei na Boston Metal. Quando fui convidado para liderar o processo, eu era o número 6 e hoje somos mais de 160, após esses poucos anos”, afirma.

Ele diz que a indústria siderúrgica foi a escolhida para o desenvolvimento da tecnologia por se tratar de um setor que atualmente responde por cerca de 10% das emissões de carbono no mundo e está numa corrida contra o tempo para fazer frente às metas de descarbonização. E lembra que anualmente são produzidas 2 bilhões de toneladas de aço, das quais apenas 30% são produzidas com material da reciclagem e 70% usam o minério de ferro. “Desde a Idade do Ferro se usa minério de ferro para produzir aço. E para cada tonelada de aço produzida são emitidas duas toneladas de CO₂. Isso é ciência e não há nada que se possa fazer sobre isso. Então, conseguimos convencer uma classe muito invejável de sócios ou investidores para nos apoiar. Ficamos muito felizes em passar a mensagem e convencê-los. Nos últimos anos eles aportaram recursos financeiros para que pudéssemos desenvolver o projeto”.

O executivo explica que, durante milênios, para se fabricar o aço mistura-se minério de ferro com carvão em um alto forno, obtendo-se o ferro-gusa, que é depois transferido para panelas, onde se retira o excesso de carbono e se obtém o ferro líquido, que depois é solidificado, gerando o lingote de aço. “Agora se fala no uso do hidrogênio verde para a produção de aço, mas isto não vai resolver o problema da descarbonização da indústria siderúrgica, porque não há hidrogênio disponível para dar conta de produzir 2 bilhões de toneladas de aço por ano e porque para isso é necessário usar minério premium no forno a hidrogênio, já que tudo acontece em estado sólido. Ou seja, é necessário um minério de ferro muito puro e somente 3% de todo o minério de ferro no mundo serve para essa finalidade”, observa, acrescentando que o processo eletroquímico da Boston Metal, denominado Molten Oxyde Electrolysis (MOE) elimina muitas etapas da fabricação do aço e libera oxigênio como seu único subproduto. O processo é realizado em uma única etapa, numa célula eletrolítica, por onde se passa eletricidade e obtém-se o lingote de aço, o metal.

Lembrando que a indústria siderúrgica está se comprometendo a ser neutra em carbono até 2050, o CEO da Boston Metal diz que, para tal se tornar realidade, eles terão que eliminar os altos fornos até 2030. “O nosso processo é o único que pode atender a todo o mercado. Pode ter outros, há muito barulho a respeito disso, mas a transição não vai acontecer da noite para o dia. Há uma transição e se precisa entender isso. Porque no final o que se tem é o óxido de ferro, que precisa ser reduzido, e há quatro caminhos para se fazer isso: usando-se carvão (o que não queremos), usando-se outro metal, usando-se hidrogênio (o que é limitado) e o quarto, que é a eletricidade”. Assim, segundo ele, a única condicionante para o sucesso do processo desenvolvido pela Boston Metal é que haja eletricidade limpa e barata. E nisto a empresa acredita, tendo em vista os investimentos que estão sendo feitos em fissão nuclear, energia solar, eólica, geotérmica e tecnologias de estocagem, além de outras alternativas que estão sendo estudadas. O dirigente diz que a fabricação do aço a partir da reciclagem de sucata é um caminho, porém limitado, devido à quantidade de sucata disponível, que atualmente supre apenas 30% das necessidades. “E há uma limitação associada com os contaminantes da sucata. Em alguns casos, pode-se usar a tecnologia retrofit e captar o CO2, mas isto implica em custos adicionais inerentes a esse processo”, afirma.

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