"A jornada só está começando"

04/04/2023
Hoje, cerca de 17% dos trabalhadores no setor são mulheres. Em 2020 eram apenas 13%.

Mara Fornari

Um ambiente mais acolhedor, respeitoso e que valorize as diferenças – é desta forma que o setor mineral vem se posicionando para praticar de fato políticas de diversidade, equidade e inclusão. “O caminho ainda é longo, mas estamos crescendo”, diz Patrícia Procópio, presidente do Women in Mining Brasil ao apresentar dados do último relatório publicado pela entidade: hoje, cerca de 17% dos trabalhadores no setor são mulheres. Em 2020 eram apenas 13%.

Debater o assunto é fundamental para o crescimento e o amadurecimento das empresas do setor mineral, disse Raul Jungmann, presidente do Ibram, durante a abertura do 2º Diversibram: “as mineradoras diversas e plurais são mais democráticas. As vozes com todos os tons e suas origens trazem contribuições e enriquecem o trabalho nas nossas empresas”. Wilfred Bruijn, presidente da Anglo American Brasil e do Conselho Diretor do Ibram, reforçou que a “diversidade, no mundo corporativo, precisa espelhar o retrato da sociedade” e que, na mineradora, das 10 cadeiras de diretoria quatro já são ocupadas por mulheres.

Salim Khouri, gerente global de Cultura da Vale, disse que o tema ganhou relevância na empresa a partir de 2019, quando foram estabelecidos alguns compromissos públicos: “hoje a mineradora tem 22% de mulheres em seu quadro de colaboradores e pretende chegar a 26% em 2025; 64% dos funcionários são negros, dos quais 30% em posições de liderança. A meta é chegar a 40% em 2026”.

Adriana Alencar, Vice-presidente de Recursos Humanos da Mosaic Fertilizantes, disse que a cultura de inclusão é um tema complexo e que precisa de uma reflexão abrangente de cenário e velocidade das mudanças – “nos últimos anos muitas inovações vieram no sentido de adaptar e incluir pessoas em diversas situações. Entretanto, as pessoas que não acompanharam essas mudanças foram de alguma forma excluídas. Também surgiram novas formas de relacionamento entre empresas e funcionários, relações com comunidades.

A tecnologia atua muito no contexto da velocidade da informação, onde opiniões são colocadas instantaneamente. O que é bom, pois as empresas se preocupam cada vez mais em ouvir os funcionários e melhorar suas experiências no ambiente corporativo”.

Adriana também abordou os reflexos históricos de uma sociedade patriarcal, machista muitas vezes e que não há mais espaço para “certas “normalidades”. É preciso respeitar e valorizar as diferenças e as empresas vêm buscando novas formas de criar ambientes mais igualitários, “a coisa certa a fazer pelos valores de representatividade. Um ambiente mais diverso traz resultados positivos e sustentáveis. E diversidade e inclusão fazem parte das práticas de ESG”.

Vera Lúcia da Silva, Gerente Geral de Desenvolvimento Humano da Samarco, lembrou que “quando você pode ser quem é, mostra o melhor que pode ser”. Ela entende que diversidade é o ponto de partida para uma cultura inclusiva – “o Brasil é um país plural, naturalmente diverso. O que nos falta é a representatividade dessa diversidade em todos os espaços possíveis, em todas as oportunidades que garantam a todas as pessoas o acesso aos mesmos direitos”.

O entendimento passa pela reflexão das crenças e valores e a contextualização histórica ajuda a entender muitos comportamentos – “durante o período da colonização europeia fomos atravessados por uma série de questões que moldaram e ainda moldam estruturalmente o que somos hoje, a forma como enxergamos e percebemos as coisas”. As mulheres eram subalternas aos homens e seus direitos lhes eram negados, a escravidão demorou a ser abolida no Brasil, as pessoas com deficiências eram excluídas do mercado de trabalho e muitas sequer avançaram na educação por não enxergarem oportunidades, situação que começou a se modificar com a Lei das Cotas. Isso sem falar no preconceito e discriminação em relação às pessoas LGBTQIA+. Falar de cultura inclusiva é tomar consciência desse histórico, de todos seus impactos na sociedade e mudar crenças e comportamentos para minimizar as desigualdades sociais, como a pouca representatividade das mulheres e negros em posições de liderança e influência.

Leia a matéria completa na edição 427 de Brasil Mineral