Projeto prevê estocar CO2 em rochas basálticas

26/04/2023
Na Islândia, o projeto já injetou quase 90 mil toneladas de CO2 no solo, que estão aprisionadas em forma de minerais

 

Um estudo de pesquisadores desenvolveu o projeto Carbfix – uma colaboração entre a empresa islandesa de energia Reykjavik Energy, a Universidade da Islândia, o Centro Nacional para Pesquisa Científica (CNRS) da França e a Universidade de Columbia, dos Estados Unidos, para o armazenamento de dióxido de carbono em rochas basálticas. O dióxido de carbono é um dos principais gases de efeito estufa e foi penetrado nas rochas através do processo de mineralização. Quando incorporado em um novo mineral, o CO2 fica preso à rocha. Na Islândia, o projeto já injetou, desde 2014, quase 90 mil toneladas de CO2 no solo, que estão aprisionadas em forma de minerais neoformados de composição carbonática.

Com o objetivo de aplicar o mesmo processo no Brasil, a petroleira sino-espanhola Repsol Sinopec Brasil está financiando um projeto no âmbito do Centro de Pesquisa para Inovação em Gases de Efeito Estufa (RCGI), com a participação de pesquisadores da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), a fim de estudar as condições brasileiras para a mineralização do CO2. “O produto final do projeto, que será desenvolvido ao longo de dois anos, aqui na Universidade de São Paulo (USP) é a modelagem do que ocorrerá com a injeção de CO2 nesses basaltos: que tipo de reação vai acontecer e quanto tempo vai levar para ocorrer a mineralização”, diz o geólogo Colombo Celso Gaeta Tassinari, professor do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP, um dos coordenadores do projeto do RCGI.

O basalto é um grupo de rochas e pode ter variações na composição mineralógica, de textura e de permeabilidade. “A nossa parte da pesquisa está mais vinculada a estudar o processo termodinâmico que ocorre quando se injeta o CO2 nos basaltos da Bacia Sedimentar do Paraná, situada dentro de uma unidade geológica chamada Formação Serra Geral”, detalha. Com mais de mil metros de espessura, o basalto da formação Serra Geral ocorre desde o Mato Grosso até o Rio Grande do Sul, passando por partes do Uruguai, Argentina, Paraguai e pegando parte do Estado de São Paulo. O projeto da Repsol prevê a injeção do gás carbônico a partir de uma planta experimental em lugar ainda a ser definido. Os pesquisadores realizarão simulações, primeiro em computador e depois em laboratórios no Instituto de Física da USP. “O grupo de pesquisa, no Instituto de Energia e Ambiente e no Instituto de Geociências da USP, fará toda a caracterização tecnológica desses basaltos, incluindo sua composição mineralógica e química, da parte estrutural, se as rochas têm vesículas, amígdalas, fraturas, todas essas coisas”, conta Tassinari. “Não é em todo basalto que se consegue fazer a mineralização do dióxido de carbono.” As mesmas amostras também passarão por ensaios no Sirius, a fonte de luz síncrotron do CNPEM, em Campinas, onde serão realizadas imagens em três dimensões do CO2 interagindo com as rochas.

O pesquisador explica que o projeto é importante para São Paulo, estado onde ocorrem os derrames de basalto e coincide com a localização das usinas de bioetanol no território paulista. “Estamos desenvolvendo outro projeto com o RCGI, mas com a Shell, no qual vamos identificar reservatórios geológicos para armazenar o CO2 capturado das usinas de bioetanol para tornar o etanol daqui do estado com emissão negativa. Além de valorizar comercialmente o etanol, isso vai torná-lo de uma nova geração.”

Diversos países, organizações e empresas do mundo tentam desenvolver soluções para conter a emergência climática provocada pelo aquecimento global. A meta é limitar o aumento médio das temperaturas a 1,5 grau C em relação ao período pré-industrial, reduzindo drasticamente ou zerando as emissões de gases de efeito estufa, entre eles o CO2. “O armazenamento geológico é uma tecnologia que permite o abatimento de uma grande quantidade de CO2 em um espaço de tempo relativamente curto”, diz Tassinari. A vantagem da mineralização – em vez do armazenamento na forma gasosa – é a garantia de que ele não vai escapar, uma vez que se transforma em rocha, em geral em carbonato de cálcio, carbonato de magnésio ou carbonato de ferro.

A tecnologia entra na categoria das ferramentas de captura, utilização e armazenamento de carbono (CCUS, do inglês carbon capture, utilisation and storage). “Também é possível usar o CO2; seria até melhor, porque é mais barato do que injetar na rocha. Só que é preciso ser de uma forma que o dióxido de carbono não retorne para a atmosfera. O uso de CO2 em refrigerante, por exemplo, não pode ser considerado como abatimento de carbono porque, quando a garrafa é aberta, o CO2 volta.” De acordo com a Agência Internacional de Energia, a expectativa é de que apenas 8% do CO2 capturado até 2070 consiga ser utilizado. “Os outros 92% terão de ir para o armazenamento geológico”, diz o pesquisador.