Por que minerar?

06/03/2023
Coluna de Paulo Castellari-Porchia

 

Preciso ser sincero: nunca imaginei que entraria para a mineração. Na cabeça de um jovem prestes a entrar na faculdade, que ainda não conhece sua vocação e aptidão, talvez a escolha mais “sensata” fosse se matricular em um curso generalista, já que isso poderia abrir um leque de opções para explorar no futuro, quando a maturidade chegasse. E assim fiz.

Sei bem que o acaso trouxe vários outros personagens para a mineração – porém, os detalhes sobre como vim parar aqui fica para um próximo artigo. O meu ponto é que a indústria ainda tem bastante a fazer para melhorar a proposta de atratividade para os jovens que estão começando seu trajeto profissional. Porém, eu ousaria dizer que a paixão é unânime entre aqueles que já estão no setor há mais tempo. Esses dias tive uma conversa com meu amigo Roberto Carvalho e me admirei ao ver que, mesmo após décadas de carreira, o brilho no olho e a vontade de aprimorar o setor a cada dia permanecem vivos.

Sei que existe uma grande tradição histórica de gerações que admiram o setor e decidem seguir a carreira na indústria por terem nascido em terras propensas à atividade – como meus vários amigos de Minas Gerais, nas várias regiões na Austrália, no Canadá e no Chile, por exemplo. Porém, esse não foi meu caso. Comecei a ter contato com a área de maneira bem tímida, enquanto trabalhava em um banco, mas nada que me tocasse e inspirasse na época. A mudança do meu mindset veio quando entrei, de fato, em uma mineradora. Logo de início, já estava claro para mim que não existe outro setor com a mesma capacidade de impactar de forma positiva com a sociedade – isso me fascinou e ainda me fascina. A escala das ações que promovíamos nos locais onde a mineração estava presente era estrondosa. Portanto, já respondendo à pergunta que traz o título desse artigo: escolho minerar todos os dias por enxergar a capacidade que a indústria tem de transformar a vida das pessoas, muitas vezes interrompendo ciclos de condições sociais adversas que vêm de gerações e gerações.

Mas, agora, pense: o que uma pessoa, recém-formada em administração poderia oferecer ao setor? Me pegou de surpresa ver o mix de capacidades, conhecimentos e culturas necessárias para minerar. A mineração é, sim, para todos e todas. Para quem gosta de lidar com números ou para quem gosta de lidar com pessoas. Para o time de exatas e para o time de humanas. Na nossa indústria, todas as habilidades são necessárias e bem-vindas. Por conta dessa ampla área de atuação, comecei a trabalhar com projetos. E foi aí que outra ficha caiu. Comecei a ver impactos de todas as naturezas - de trabalho, de impostos, de análises de riscos... E foi aí que também entendi que temos que minerar, também, pelas pessoas e pelas comunidades. O que eu quero dizer? É claro que precisamos tomar decisões corporativas, mas não podemos deixar de lado a cultura, o bem-estar e a confiança da população que está nos recebendo. Não podemos cortar uma árvore que tem um símbolo cultural para o povo. Não podemos interferir em qualquer atuação social da comunidade. Nós temos que fazer diferente. 

E é por isso que hoje, na posição que ocupo na Appian Capital Brazil, trabalho para que o conceito de integração social esteja sempre no centro do nosso negócio. E verdadeiramente está. Quando falamos de integração social, falamos de ser parte do território em que atuamos como qualquer outro membro da comunidade ou qualquer outro stakeholder. É sobre engajar, debater, buscar alternativas e, acima de tudo, estar sempre abertos para ouvir sobre áreas que podemos melhorar. 

Com uma certa maturidade que adquiri após meus 30 anos de mineração, vejo que a integração social é realmente um caminho sem volta. É ir muito além da ‘Licença Social para operar’. É fazer porque genuinamente nos importamos. Os resultados disso? Iniciativas que realmente importam, que verdadeiramente atendem às demandas locais, que proporcionam um ambiente social construtivo, fortalecem a economia das nossas comunidades anfitriãs e garantem operações cada vez mais estáveis.

De fato, não há dúvidas de que a capacidade de realização da indústria é enorme – e que isso atraiu e continua atraindo muitas pessoas para o setor, como foi o meu caso. Cabe a nós, porém, usar esse propósito para fazer a mineração da maneira correta. Temos todos que assumir essa missão de contar nossas histórias, nossos aprendizados. Garantindo a segurança de todos, comunicando para a sociedade o que fazemos, agindo com transparência e dialogando mais. A mineração é o futuro, e cabe a nós construir um legado positivo.