Panorama do mapeamento geológico no Brasil

01/06/2023
Por Lúcia Travassos da Rosa Costa

O mapeamento geológico sistemático envolve uma abordagem especializada e multidisciplinar das Geociências e tem como produto principal o mapa geológico. Em linhas gerais, um mapa geológico é a representação espacial dos diversos tipos de unidades geológicas aflorantes e das estruturas tectônicas que afetam estas unidades.

O mapeamento geológico fornece dados, informações e promove a evolução do conhecimento geológico. De forma simplificada, os dados são factuais e resultam, por exemplo, de observações feitas em afloramentos durante os trabalhos de campo e de análises laboratoriais realizadas em amostras coletadas nestes afloramentos. O mapa geológico é a informação que resulta da assimilação, espacialização e interpretação destes dados. E a interpretação de um conjunto de dados e informações que permitam, por exemplo, a caraterização do ambiente geológico de formação das rochas mapeadas, representa o conhecimento geológico.

O entendimento da importância do mapeamento geológico remonta ao século XIX, quando foram criados os primeiros serviços geológicos no mundo, os “geological surveys”, sob a premissa de que era atribuição de Estado realizar levantamentos temáticos (geológicos, hidrológicos, topográficos, etc), necessários ao desenvolvimento da indústria, da mineração, da agricultura e ao planejamento do desenvolvimento regional. A criação dos serviços geológicos marca, portanto, o desenvolvimento institucional das ciências geológicas, sobretudo devido ao reconhecimento da importância do mapeamento geológico, o que levou à consolidação da Geologia em nível mundial.

Mundialmente, é atribuição governamental a realização da cobertura de mapeamento geológico nos países, executada através dos serviços geológicos nacionais, estaduais ou provinciais. Também é assim no Brasil, em que o Serviço Geológico do Brasil tem o mapeamento do território brasileiro dentre suas atribuições primordiais, desde sua fundação como Companhia de Pesquisa e Recursos Minerais, em 1969, e ainda mais incisivamente a partir de sua transformação em serviço geológico, em 1994.

Mas uma longa história de pesquisas geológicas vinculadas a iniciativas governamentais antecede a fundação da CPRM, que incluem a criação da Comissão Geológica do Império, em 1875, do Serviço Geológico e Mineralógico do Brasil, em 1907, e do Departamento Nacional de Produção Mineral, no mesmo ano de promulgação da Constituição de 1934, pioneira na regulamentação de bens minerais, que desvinculou as propriedades do solo e subsolo.

Exemplos emblemáticos na trajetória do mapeamento geológico no Brasil devem ser destacados, como o mapeamento em escala 1:25.000 do Quadrilátero Ferrífero, realizado através da cooperação celebrada em 1945 entre o DNPM e o United States Geological Survey, e o mapeamento realizado na porção central da Bacia do Paraná, nas escalas 1:50.000 e 1:70.000, pela Comissão da Carta Geológica do Paraná, criada em 1964.

Outro marco histórico foi o Projeto RADAM - Radar na Amazônia, estendido a todo território nacional através do Projeto RADAMBRASIL, que representou um esforço pioneiro do governo brasileiro na pesquisa de recursos naturais, incluindo geologia, geomorfologia, vegetação e uso do solo. Este projeto estruturou a base do conhecimento geológico regional do território continental brasileiro, através da publicação de mapas geológicos de folhas cartográficas na escala 1:1.000.000, acompanhadas de texto explicativo.

Os dados produzidos através do mapeamento geológico, associados àqueles obtidos em levantamentos geofísicos e geoquímicos, e às informações geradas através da análise integrada destes dados básicos, inequivocamente reduzem o risco exploratório, estimulam investimentos em pesquisa mineral e favorecem a descoberta de novos depósitos minerais.

Leia a matéria completa na edição 429 de Brasil Mineral