Como atrair jovens talentos para a mineração?

01/02/2023
Coluna de Paulo Castellari Porchia

 

Ao completar 30 anos na indústria de mineração, venho refletindo não apenas sobre como o setor vem mudando, mas também sobre o fato de que, nesse período, nos deparamos com o encontro de pelo menos três gerações. E que oportunidade única ter a nossa coluna para compartilhar observações como essa e os aprendizados obtidos ao longo desses anos de vivência na área.

Quando paro para pensar na minha trajetória na indústria, não consigo deixar de sentir um certo saudosismo ao me lembrar do início de minha carreira. Afinal, grande parte do eu fascínio pela mineração veio ao perceber a capacidade do setor de mover positivamente a sociedade.

Porém, refletir sobre o passado também significa contemplar o futuro. E, para a construção de um legado sustentável, onde mais investir a não ser nas pessoas? Quando me lembro do jovem inspirado, movido por um propósito, não consigo deixar de pensar em como estamos investindo no  desenvolvimento da juventude que irá nos suceder e, da mesma forma, o que o setor vem fazendo para atrair para si essas audiências.

É certo que em um setor complexo como o nosso – com tantos processos, fluxos e rígidos padrões de segurança – precisamos da experiência e da expertise dos que já estão na indústria há mais tempo. Mas as habilidades e o mindset dos jovens talentos são primordiais para o futuro da mineração. A combinação entre a experiência e segurança dos primeiros com a energia e ousadia dos que estão chegando é justamente a chave do sucesso para nossas operações.

Mas então, sabendo da importância dessa diversidade geracional para a performance operacional e financeira das nossas empresas, como garantir que estamos atraindo e retendo esses jovens talentos?

Há algum tempo, vi uma pesquisa da Accenture que indicava que ¾ da Geração Z ranqueava ‘propósito’ – incluindo compromissos sociais e ambientais – acima de ‘salários’ ao aceitar uma nova proposta de emprego. É notório que uma alta performance de ESG acaba desempenhando um importante papel atrativo para novos talentos no setor. Afinal, a sustentabilidade se faz presente nos mais variados tópicos do momento – e o poder inspiracional desse diálogo é fenomenal. Se hoje há um desgaste da reputação do setor, o desejo de deixar um impacto positivo para o planeta deve ser o motor para a mudança que queremos ver. Por isso a necessidade de se investir na inovação e nos talentos guiados por propósitos – afinal, mudar uma cultura corporativa conservadora é um grande desafio e, para isso, precisamos de novos olhares, costumes e práticas.

E nós, “velhos de casa”, precisamos constantemente nos atualizar e nos adaptar às diferentes exigências e motivações das novas gerações. Preciso ser sincero: no início da minha carreira, a principal ferramenta de atração era bem óbvia: pagar bem e  promover crescimento profissional. Porém, fomos evoluindo. Fui aprendendo outras formas criativas de trazer pessoas, de movimentá-las para um objetivo. Essa combinação de ser uma indústria com uma vasta gama de oportunidades e com um grande potencial de impacto é a fórmula perfeita para um alto índice de atratividade.

Porém, volto a me questionar: se temos a receita em nossas mãos, por que ainda temos uma grande dificuldade para reter esses novos talentos? Parte da sociedade brasileira reconhece que a mineração é necessária para a produção dos insumos que utilizamos em nosso dia a dia - ela é a base que fomenta a revolução tecnológica que estamos vivendo. Mas ainda acho que pecamos na promoção das nossas atividades. Quando falo de promoção, falo sobre sermos constantes porta-vozes da nossa área de atuação, sobre fomentar um diálogo aberto e transparente. Nossos esforços nesse âmbito precisam ir além dos números e resultados que produzimos para nossos investidores. Precisamos não apenas apontar dados, mas também contar o que fazemos, como fazemos e porque fazemos. E o sucesso dessa missão está atrelado a apenas uma condição: ter orgulho do que fazemos. O mesmo orgulho do Paulo de 20 e poucos anos que entrou na indústria fascinado com a sua capacidade de gerar mudanças nas vidas das pessoas. Fascínio esse que se manteve vivo até nos momentos mais desafiadores da minha carreira.

Temos a receita e sabemos do impacto. Assim, aqui fica o convite para juntarmos forças e assumirmos o nosso papel de embaixadores e promotores do setor. O que, de fato, estamos fazendo para trazer os jovens talentos para a indústria? Que tipo de oportunidade estamos dando para os jovens que já estão dentro das nossas organizações? Quanto tempo da nossa agenda está alocada para o assunto de atração e retenção de jovens talentos? Quanto de inovação estamos promovendo no nosso dia a dia? A lista de perguntas não tem fim.

Fica aqui o apelo. A escada é longa, mas temos que começar de algum lugar.