Garimpos podem ter usado 185 toneladas de mercúrio ilegal entre 2018 e 2022

04/06/2024
O levantamento estima que foram utilizadas entre 165 e 254 toneladas de mercúrio para produzir as 127 toneladas de ouro registradas em áreas com permissão de lavra garimpeira

 

Segundo o estudo “De onde vem tanto mercúrio?”, lançado recentemente pelo Instituto Escolhas, nada menos que 185 toneladas de mercúrio de origem desconhecida podem ter sido utilizadas para a produção de ouro em garimpos brasileiros entre 2018 e 2022. O levantamento estima que foram utilizadas entre 165 e 254 toneladas de mercúrio para produzir as 127 toneladas de ouro registradas em áreas com permissão de lavra garimpeira no Brasil naqueles cinco anos. No entanto, de acordo com os dados oficiais, o Brasil – que não é produtor de mercúrio – importou apenas 68,7 toneladas do metal, o que significa que entre 96 e 185 toneladas de mercúrio podem ter origem ilegal.

“Esse dado preocupa, porque revela uma enorme falha do controle oficial sobre o comércio de algo que representa um grave perigo à saúde humana e ao equilíbrio ambiental. O Brasil precisa se comprometer com o fim do uso do mercúrio e, até que isso ocorra, o mínimo que se espera é um controle rígido sobre o mercúrio que ainda circula no País”, alerta Larissa Rodrigues, pesquisadora do Escolhas e responsável pelo estudo. Larissa comenta que entre 2022 e 2022 as exportações de ouro brasileiro tiveram um salto de 35 toneladas para 96 toneladas anuais e as áreas de garimpos saíram de 68 mil hectares para 224 mil hectares. “Os garimpos não deixaram de usar mercúrio na extração de ouro nessas duas décadas, mas as importações oficiais de mercúrio no País caíram de 67 toneladas para 15 toneladas por ano no mesmo período. A conta não fecha e tudo aponta para uma ampliação do comércio ilegal de mercúrio no país”, destaca a pesquisadora.

Diante do grave descontrole sobre o comércio e o uso de mercúrio no Brasil e dos casos de contaminação humana, que são a face mais grave do problema, o Instituto Escolhas cita um conjunto de medidas que poderiam ser adotadas para erradicar o uso do mercúrio e transformar as práticas de extração de ouro. A primeira seria estabelecer a erradicação do uso do mercúrio no Brasil, pois, desta forma, o País teria uma estratégia clara, com meta e prazo, para lidar com o problema ; Engajar os demais países da região para a erradicação pra evitar contaminações transfronteiriças e o comércio ilegal. Na Colômbia, o mercúrio é proibido desde 2018 ; um programa de incentivo, com capacitação e regulamentos, tecnologias e processos já existentes para substituir o mercúrio na extração de ouro. Com o uso da gravidade é possível obter materiais concentrados com alto teor aurífero. Para isso, é importante aprimorar os trituradores, os moinhos e as caixas concentradoras e usar centrífugas, mesas vibratórias, as próprias bateias e imãs para limpar os concentrados de ouro. Muitas vezes, esses equipamentos e técnicas são usados sem os ajustes adequados, prejudicando a recuperação do ouro ; Incentivar a pesquisa e o desenvolvimento de novos elementos e processos para substituir o mercúrio na extração de ouro, como, por exemplo, a pesquisa da Embrapa com as folhas do pau-de-balsa, árvore nativa da Amazônia, que pode exercer essa função. Plantar pau-de-balsa pode ser também uma boa opção para reflorestar as áreas degradadas nos garimpos e, por último, fiscalizar as atividades de extração de ouro para combater a ilegalidade e garantir que adotem medidas para evitar a liberação e a emissão de mercúrio no meio ambiente.