Afloramento rochosos são refúgios para epífitas no ES
Um Estudo inédito publicado na revista científica “Biodiversity and Conservation“ mostra que os afloramentos rochosos da Mata Atlântica Capixaba atuam como área de refúgio para plantas epífitas – espécies que vivem sobre outras plantas, sem parasitá-las, como orquídeas, bromélias e samambaias.
Os afloramentos rochosos são constituídos de granito e gnaisse e rodeados pela floresta, tornando-se “ilhas de habitat terrestres” sem a intervenção do ser humano em grandes proporções. Para entender o papel dos inselbergs (afloramentos rochosos) como refúgio para a flora de epífita no estado do Espírito Santo, os pesquisadores do Instituto da Mata Atlântica (INMA) e do Jardim Botânico do Rio de Janeiro combinaram dois bancos de dados nacionais de flora online (Reflora e Jabot), dados de espécies coletadas pelos autores e estudos publicados anteriormente. Nas paisagens do Espírito Santo os afloramentos rochosos são grandes maciços que se destacam em meio a plantações agrícolas, pastagens e áreas de vegetação nativa da Mata Atlântica. A flora é adaptada para viver em condições ambientais extremas, como solos incipientes ou ausentes, altas temperaturas e escassez de água, distintas daquelas que ocorrem nas paisagens naturais do seu entorno. “Possivelmente, as árvores presentes nos inselbergs constituem as únicas chances de sobrevivência das epífitas nativas. Muitas delas são endêmicas e ameaçadas de extinção”, destaca Talitha Mayumi Francisco, pesquisadora do Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA).
No estudo, os pesquisadores propuseram pela primeira vez o termo “epífita especialista em rocha” para aquelas espécies endêmicas de inselberg – ou seja, epífitas que ocorrem exclusivamente em ecossistemas rochosos, geralmetne sobre espécies de Vellozia – que somaram aproximadamente dois por cento das espécies listadas. Apesar de poucas espécies serem classificadas nessa categoria, esse grupo merece atenção especial do ponto de vista evolutivo, em que o processo de especiação levou a uma relação muito “estreita” com arbustos endêmicos desses ecossistemas.
As epífitas vasculares representam um grupo muito diversificado nas florestas tropicais úmidas do mundo, principalmente na América Tropical. “Além disso, as epífitas têm números alarmantes de espécies ameaçadas de extinção porque dependem diretamente do apoio estrutural oferecido pelas árvores para sua sobrevivência. Ao passo que grandes extensões de florestas primitivas foram derrubadas para diversos fins, junto com essas árvores perdeu-se um número imensurável de espécies epífitas, que morreram junto a suas árvores-mães”, explica Dayvid Rodrigues Couto, pesquisador do INMA e um dos pioneiros no estudo das epífitas de inselbergs no Brasil.
Tais afloramentos rochosos foram preservados da devastação por não atrair interesse agrícola. “Com isso, esses ecossistemas foram preservados do impacto humano e mantiveram seu caráter de refúgio. Entretanto, inúmeros impactos ameaçam a diversidade da flora nos inselbergs capixabas, sendo o mais grave a mineração de rochas ornamentais, resultando na perda de habitats e na consequente ameaça a várias espécies botânicas”, alerta Talitha. “Não há estimativas certas sobre as taxas globais de destruição desse ecossistema, o que é necessário, com urgência, para a definição de estratégias de conservação eficazes”, destaca Cláudio Fraga, pesquisador do Jardim Botânico do Rio de Janeiro e um dos autores da pesquisa. Talitha diz que é preciso conhecer como as espécies ocorrem nos ecossistemas naturais tropicais para planejar ações de preservação de espécies, manejo e restauração ecológica e criação de reservas. “Esperamos que nosso estudo contribua para o direcionamento de políticas de conservação e sirva de base para que os órgãos ambientais atuem com mais rigor na fiscalização e proteção desse ecossistema”, conclui a pesquisadora. .