Suíços rejeitarão metal de terras indígenas

30/06/2022
A Suíça é o segundo maior importador de ouro do mundo, o principal exportador e um centro global para a comercialização do metal precioso.

 

As refinarias suíças Valcambi, Argor-Heraeus, Metalor, MKS Pamp e PX Précinox, além da Associação Suíça da Indústria de Metais Preciosos (ASFCMP) se comprometeram a não importar ouro oriundo de territórios indígenas da Amazônia brasileira. Em decisão inédita, as empresas decidiram adotar medidas técnicas e necessárias para não aceitar, importar ou refinar o metal ilegal, por meio do rastreamento e identificação do ouro. 

As companhias condenam também "qualquer atividade de mineração ligada às áreas protegidas da Amazônia sem o consentimento livre, prévio e de boa-fé das comunidades afetadas". Além disso, rechaçam o uso de mercúrio e solicitam que o Governo brasileiro proteja o meio ambiente e comunidades indígenas. 

O compromisso é resultado de diálogos com ONGs que culminou em encontro em Berna, capital suíça, das refinarias com uma delegação da Amazônia, incluindo representantes de povos indígenas, como munduruku Wakoborun (de Tajapós), movimento Xingu Vivo para Sempre, Aliança Volta Grande Xingu, Amazon Watch, mediada pela Associação para os Povos Ameaçados (SPM). Christoph Wiedmer, co-diretor da SPM, diz que a declaração de intenção é inédita no setor suíço de matérias-primas. A questão agora é como ela será aplicada, já que nenhum consenso foi alcançado sobre a questão central de transparência na cadeia de abastecimento do ouro para a Suíça. "Autoridades brasileiras disseram que em 2020 e 2021 saíram cinco toneladas de ouro duvidoso para a Suíça”, diz Wiedmer. "Ainda estamos buscando para onde foi esse ouro, já que as refinarias garantem que não o importaram”.  

Christoph Wild, presidente da Associação Suíça da Indústria de Metais Preciosos, afirma que a Suíça importa ouro de todas as regiões do mundo, inclusive do Brasil, mas extraído de forma legal e conforme as normas internacionais, mas não importa metal originário da Amazônia. 

A declaração conjunta com ONGs mostrou atenção com cadeias de abastecimento sustentáveis.  A Suíça é o segundo maior importador de ouro do mundo, o principal exportador e um centro global para a comercialização do metal precioso. Organizações não governamentais (ONGs) costumam reclamar que o país está longe de poder garantir a origem do ouro importado.

A extração de ouro chegou a 3.300 toneladas em 2019 em todo o mundo. O maior produtor foi a China, com 380 toneladas, seguido pela Austrália com 325 toneladas e a Rússia com 305 toneladas. O Brasil aparece com produção de 90 toneladas e o Peru com 128 toneladas.

Um relatório da WWF calcula que entre 50% e 70% de todo o ouro negociado no mundo passa pela Suíça. Segundo o WWF, boa parte do ouro tem origem em países que não produzem o metal precioso, como a Grã-Bretanha (importações de 130 toneladas), Emirados Árabes Unidos (128 toneladas) ou Itália (68 toneladas), por um sistema comercial que impede assegurar a rastreabilidade do ouro.

Em junho, a aduana da Suíça mostrou que mais de três toneladas de ouro foram expedidas da Rússia no primeiro grande embarque desde a invasão da Ucrânia em fevereiro. Os países do G7 decidiram proibir a importação de ouro, em decisão anunciada no fim de junho, na Alemanha.

Estados Unidos proibirão importação da Rússia

Durante a reunião do G7 na Alemanha, no último domingo, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou que irá proibir as importações de ouro da Rússia. A medida faz parte de uma série de sanções do grupo em uma tentativa de isolar a Rússia economicamente, após a invasão à Ucrânia. "Os Estados Unidos impuseram custos sem precedentes a Putin para negar a ele os recursos necessários para financiar sua guerra contra a Ucrânia. Unido, o G7 anunciará a proibição da compra de ouro russo, uma exportação significativa que arrecada dezenas de bilhões de dólares para a Rússia", escreveu Biden no Twitter.

Funcionários de alto escalão da administração de Biden disseram que o ouro é a segunda maior commodity da Rússia, atrás apenas da energia, e que o veto dificultaria a participação do país nos mercados globais. "Temos de assegurar que vamos todos ficar juntos. Vamos continuar trabalhando nos desafios econômicos que enfrentamos, mas acho que vamos superar tudo isso", disse Biden.