Diferentemente de tudo o que se possa imaginar, ser esposa, ou melhor, mulher de geólogo, não é nada fácil. Diga-se, a bem da verdade, que a mulher do geólogo é conhecida como viúva de marido vivo.

Morando em apartamento, isso se acentua de uma forma absurda. Sobe elevador, desce elevador, sozinha ou acompanhada pelos filhos, fica evidente a falta do marido. Passeando na praça, indo a restaurantes, fazendo compras, domingo no clube, lá esta ela, sem seu homem ao lado: só os filhos. Os garanhões de plantão começam a jogar cantadas indiretas:

- Bonitinha sua filha; e etc, etc, etc.

Para organizar e administrar a casa, a família e sua vida pessoal, ela tem que estabelecer vários planos:

Fenômenos naturais - ela deve saber que durante a ausência do marido geólogo, que pode ser de no mínimo 20 dias, precisa fazer a contenção de suas emoções, de uma forma bem estruturada para que não ocorra algum desmoronamento.

Exploração de recursos - fazer um levantamento sobre a possibilidade de precisar de qualquer ajuda e saber previamente quem na vizinhança poderá dar suporte em várias situações: levar os filhos à escola, concertar os aparelhos domésticos, cuidar dela própria com febre de 40 graus e dos filhos demolindo o apartamento e em muitas outras situações. Dentro deste plano, é importante que ela saiba e entenda que para o atendimento de suas necessidades, ela, na maioria das vezes, só poderá contar consigo mesma.

Controle financeiro - pagar todos os impostos, prestações, aluguel, condomínio e IPTUS da vida e anotar todos os gastos. Quando perceber que o final do mês está chegando e o dinheiro e o marido geólogo não, respirar fundo e reduzir o cardápio aplicando a lei de Lavoiser: na natureza nada se perde tudo se transforma.

Contagem do tempo - aprender a contar os milhares de quilômetros, os milhões de minutos e os infinitos segundos que faltam para ter seu marido geólogo por, pelo menos, mais cinco dias.

Mesmo que ela trabalhe fora, tem que se esforçar para estar atualizada com todos os termos da geologia, conhecer nomes de rochas, saber o que é um testemunho, o que é teor, ocorrência, feldspato, magnetita, etc., porque, nas reuniões em que outros colegas geólogos estiverem presentes, só se falará de geologia praticamente o tempo todo. Nem tente falar do seu trabalho, de suas atividades, porque seu geólogo e os colegas não ouvirão.

Mas todos os sacrifícios se tornam o melhor dos presentes quando o seu geólogo chega em casa e, colocando uma amostra de minério de ferro em sua mão, fala:

- Olhe bem para esta amostra, porque ela ainda vai dar muito que falar.

Estava descoberto Carajás...