Ero Brasil investirá US$ 1 bilhão em crescimento

12/04/2022
A nova companhia, que coordenará todo esse esforço de crescimento, poderá desenvolver novos ativos em ouro e cobre, além dos que já possui.

 

Por Francisco Alves

Fazer com que todos se sentissem parte de um só grupo, trabalhando juntos para o crescimento e com padronização, com as mesmas diretrizes, as mesmas recomendações, sob uma mesma marca. Estes foram os principais motivos para a criação da Ero Brasil, empresa que reúne os ativos do grupo Ero Copper no País: as operações de cobre da Caraíba, na Bahia, de ouro em Xavantina (MT) e o projeto de cobre de Boa Esperança, em Tucumã (PA), cuja implantação está se iniciando. 

Em entrevista a Brasil Mineral, o presidente da nova empresa, Eduardo De Come, e o diretor Jurídico Antonio Neto (que comandou o processo de rebranding) informam que a Ero Brasil estará investindo cerca de US$ 1 bilhão no Brasil, nos próximos cinco anos, para ampliação da produção de cobre na Bahia, aumento da produção de ouro no Mato Grosso e implantação do projeto Boa Esperança. Eles também ressaltam que a nova companhia, que coordenará todo esse esforço de crescimento, poderá desenvolver novos ativos em ouro e cobre, além dos que já possui. No caso do ouro, já foi firmado um contrato de opção com uma empresa no Pará, a Soma. A Ero Brasil vai explorar a área e caso dimensione um depósito viável, poderá exercer a opção de compra. 

De Come também explica que, apesar do forte investimento, a empresa não quer ser uma gigante do setor. “Estamos muito felizes em nos firmamos como um bom produtor de cobre e ouro de médio porte, com foco no Brasil”, diz ele. Confira. 

BRASIL MINERAL – Quais foram as razões para criação da Ero Brasil?

ANTONIO NETO – Tivemos recentemente muitas mudanças no Brasil: a aposentadoria do Manoel (Manoel Valério de Brito, que presidiu a Mineração Caraíba até recentemente), a aprovação do projeto Boa Esperança pelo Conselho, em fevereiro de 2022, e vemos a empresa com possibilidade de crescer, pois o mercado está aquecido, o preço do cobre está nas alturas, o ouro também está valorizado, e pensamos em unificar nossas operações. 

Em 2017, quando houve a paralisação da Caraíba, a NX Gold teve um papel importantíssimo na manutenção das operações da empresa como um todo. Estávamos com um problema muito grande de fluxo de caixa na Caraíba, por conta da paralisação na mina subterrânea, e utilizamos as operações da NX para continuar pagando o pessoal e possibilitar a viabilização de M&A, que veio a culminar com a entrada da Ero Copper.  Até então, o grupo como um todo sempre olhou muito para a Caraíba e pouco para as outras operações, embora elas sempre tivessem sido importantes. Embora o Ero seja um grupo de cobre, queríamos que a NX se sentisse parte disso e também o pessoal do projeto Boa Esperança. 

E a perspectiva, com a unificação, é muito boa, os investimentos são muito altos, em geologia, tanto na Caraíba quanto em Xavantina e Tucumã e surgiu a ideia de mudança de posicionamento da companhia no mercado. Queríamos fazer com que todos se sentissem parte de um só grupo, todos trabalhando juntos para o crescimento e quem sabe adicionarmos novos ativos. Vamos trabalhar com padronização, todos trabalhando com as mesmas diretrizes, as mesmas recomendações, uma mesma marca.  E, acima de tudo, assinamos com o Ibram o compromisso de até 2024 estarmos aderentes às normas de ESG. Assim, precisamos ter todo mundo trabalhando da mesma forma, porque é uma política que tem que ser do grupo. E para ter essas políticas iguais o pessoal precisa se sentir inserido. A receptividade que tivemos, e todas as áreas, foi gigantesca. 

EDUARDO DE COME – Acho importante essa modificação, para mostrar que somos algo maior. A partir do trabalho que foi feito nos últimos anos, principalmente em pesquisa geológica, hoje olhamos e vemos a Caraíba com uma vida útil até 2037, a NX Gold até 2030 (com o potencial agora de uma nova mina), o projeto Boa Esperança como uma realidade. Agora temos uma visão de futuro, um portfólio de empresas cuja expectativa é de que não pare nessas três (seja por crescimento orgânico ou por aquisições, já que começamos a olhar opções no mercado), e começou a fazer sentido partirmos para o que muitas empresas já têm, que é criar uma estrutura corporativa, padronizar os serviços para suprir a retaguarda dessas atividades operacionais. Então quando juntamos tudo isso vimos que agora fazia sentido criar o grupo. E a Ero já era um pouco mais conhecida e até para efeito de negociação (contato com banco, investidores) é muito mais fácil falar de uma marca. Este é um aspecto. 

Um outro aspecto é que essa mudança não alterou nada do ponto de vista societário e jurídico. Então temos a Ero Brasil, que foi criada, que deve ter uma pequena estrutura, para ser a base corporativa, mas a Caraíba continua existindo como unidade independente, a NX Gold a mesma coisa. Essa mudança foi muito mais gerencial, de branding, de marca, do que uma mudança legal ou societária. Só que agora com a nova identidade: Ero Brasil Caraíba, Ero Brasil Xavantina e Ero Brasil Tucumã. E esperamos que isso seja traduzido em procedimentos cem por cento alinhados entre as empresas e nos dê mais condições (é uma motivação grande também), de negociar em bloco. Se vamos comprar bolas de moinhos, compraremos para as três. Explosivos, idem. A mesma coisa para itens que sejam de uso comum. Hoje isso tudo é independente. Então essa é convergência que estamos fazendo e que esperamos ter alguns ganhos. 

BRASIL MINERAL – Quais são os princípios que norteiam a nova empresa? Como pretendem manter o legado da Caraíba?

EDUARDO DE COME – Na verdade, o legado da Caraíba vai continuar. Hoje temos o projeto de aprofundamento da mina subterrânea, onde a pesquisa geológica encontrou minério de alto teor. Com o projeto, que chamamos de deepening (aprofundamento), vamos estar construindo um shaft que, quando estiver pronto, vai ser o maior shaft da América Latina. É um shaft de 1.500 metros, que estamos desenvolvendo com uma empresa sul-africana, a UMS. O projeto já foi aprovado, é um investimento pesado, de quase US$ 200 milhões, que vai ser realizado nos próximos anos e vai manter a Caraíba em destaque. Não só pela tecnologia que estaremos agregando, mas também pelo volume de minério que pretendemos extrair. Paralelo a esse projeto de aprofundamento temos alguns outros, que é o projeto de refrigeração da mina, já que precisamos ter uma geração grande de temperatura mais baixa no interior da mina, insuflando ar refrigerado. Temos um projeto de Tailings, pois precisamos depositar o rejeito que vai ser gerado até quase 2040. Precisamos ter espaço para processar esse minério, então estamos colocando mais um moinho. A Caraíba, no início, há quarenta anos, tinha quatro moinhos, depois acabou vendendo dois. Hoje continuamos com dois e já fechamos um contrato para trazer um terceiro. Teremos até três moinhos. Temos a visão de que a Caraíba vai continuar por muito tempo sendo uma empresa respeitada, por tudo que ela fez nesse período e temos a expectativa de que, incorporando tecnologias e novos procedimentos, ela tenha um destaque como uma das empresas de cobre de referencia. 

E os princípios que vão estar norteando o nosso grupo, seguem algumas ideias. Primeiro, não pretendemos ser uma empresa gigante. Estamos muito felizes em nos firmamos como um bom produtor de cobre e ouro de médio porte. O segundo ponto é que não queremos sair do Brasil. O foco da Ero Copper e agora da Ero Brasil é desenvolver atividade aqui no País. Estamos investindo nos próximos cinco anos quase US$ 1 bilhão em operações no Brasil. E tem três outros pontos que estão por trás disso, que são: primeiro, segurança é inegociável. Número dois, meio ambiente é prioridade. Estamos criando uma diretoria de ESG na estrutura corporativa, uma diretoria de segurança que vai monitorar todos os ativos. E, terceiro, queremos ter rentabilidade. Se não tivermos uma rentabilidade para sustentar esse desenvolvimento e perpetuidade da companhia, não dá pra falar em bem-estar no curto prazo. Então vamos trabalhar pelo crescimento orgânico dos ativos que temos, visualizando oportunidade dentro do Brasil, focando Segurança, Meio Ambiente e Rentabilidade. E rentabilidade é baixo custo. Sabemos que uma hora o mercado vira. Para o cobre, agora o pessoal está um pouco mais otimista, por conta dessa onda verde de carro elétrico, energia solar e eólica, então pode ser que demore um pouco mais pra virar. Mas uma hora o preço vai ficar ruim. Há outros fatores que talvez façam com que a curva fique um pouco mais longa antes de virar, porque no mundo, hoje licenciar novos projetos é um desafio. E a própria exaustão de jazidas também restringe um pouco isso. Então a entrada de novos players, que joga o preço pra baixo, talvez demore um pouco mais. Mas temos que estar focando em produzir com o menor custo possível. 

ANTONIO NETO – Estamos com uma preocupação bem grande com sustentabilidade. A questão das comunidades é muito importante pra nós, estamos trabalhando isso muito forte já, muito focados, inclusive na implementação em Tucumã, em atingir essas comunidades capacitar essas pessoas. Temos exemplos lá de pessoas que foram capacitadas e deu certo, e queremos fazer o melhor para isso: trabalhar junto com as comunidades, com segurança, pensar no meio ambiente, pensar também no retorno do capital para o investidor, que é importante. 

Temos como missão atuar com foco na ampliação da vida útil das reservas minerais e dos ativos no Brasil, através de modelo multiplataforma de investimento, que abrange pesquisa geológica e implementação de novos ativos. Nossa visão é ser uma mineradora de médio porte reconhecida por sua excelência em sustentabilidade e rentabilidade de seus ativos. Como valor, na Ero Brasil, atuamos com a premissa de respeito absoluto à segurança de todos, sejam colaboradores ou prestadores: diversidade, inclusão e equidade, meio ambiente e comunidades, ética, transparência, normas e costumes são valores que nos norteiam.  

Temos um futuro muito próspero pela frente, tanto para a companhia quanto para os empregados, para as comunidades que atendemos. Vamos continuar dando assistência para as comunidades, mas sem assistencialismo, porque nossa ideia de legado é ajudar sem fazer com que eles sejam dependentes. Continuaremos investindo na preparação das pessoas locais para o mercado de trabalho e para atuar conosco. 

BRASIL MINERAL – Como a empresa planeja seu crescimento? O foco é cobre e ouro?

EDUARDO DE COME – Quando se entra em determinado mercado, se começa a controlar algumas cadeias. Como entramos no ouro, adquirimos alguma experiência em lavrar esse material, a cadeia de comercialização, e criamos um know-how que às vezes faz sentido expandir. O ouro veio para nós como uma das possibilidades e hoje é um dos metais que olhamos. Temos um novo negócio de ouro, um projeto com a Soma, no Pará, em que compramos uma opção para explorar a área. Então compramos a opção, exploramos a área e ao final de determinado período temos o direito de exercer aquela opção e comprar o projeto por um determinado valor. Este já é um movimento que estamos fazendo no sentido do crescimento. Nem é crescimento orgânico nem a compra de um projeto pronto. É um caminho intermediário. A nossa primeira observação é que neste momento não vamos comprar um projeto pronto. Primeiro porque são poucos e segundo, a valorização que o pessoal faz hoje é muito alta, porque considera os preços atuais. Então o upside para ganhar alguma coisa comprando projeto aparentemente vai ser muito pequeno. Iríamos desembolsar um valor muito grande para deixar o ganho na mão do proprietário atual e isso não vai trazer vantagem para nós.  

BRASIL MINERAL - Quais são os desafios para administrar três operações tão distantes uma da outra geograficamente?

EDUARDO DE COME - Se teve alguma coisa boa nessa pandemia, foi que ela mostrou que o trabalho remoto supera bastante as dificuldades de estar viajando frequentemente. Vamos continuar acompanhando muita coisa remotamente, criamos uma base em Belo Horizonte, porque percebemos que os prestadores de serviços de engenharia estão lá. Entendemos que precisamos estar onde fica a inteligência do setor de mineração, que é Belo Horizonte. Hoje, muitas das pessoas que estão trabalhando no projeto boa Esperança ficam em BH. Esta foi a segunda medida. A terceira foi criar a base corporativa, para minimizar o número de pessoas que se precisa ter nos ativos. Mas chega uma hora em que não tem jeito: chamamos empresas de táxi aéreo, começamos a fazer algumas boas parcerias, porque tem que estar lá. Então já temos um diretor para o projeto Boa Esperança e adotamos o programa Fly-in fly-out. 

Uma das ações efetivas que queremos ter e que terá importância muito grande dentro de nosso trabalho é a questão de treinamento, porque mão de obra, desde a mais simples à mais sofisticada, é um recurso chave para seguirmos. Temos alguns times que visitaram centros de treinamento no Chile, no Peru, estamos em contato com fabricantes para adquirir simuladores. Estamos disponibilizando uma área em Pilar, na Bahia, onde queremos montar um centro de treinamento de primeiro mundo onde possamos trazer gente de Xavantina, de Tucumã, para aprender a operar uma carregadeira, um caminhão de grande porte, trabalhar com explosivos. Queremos fazer treinamentos básicos, porque temos dificuldade. E quanto mais remoto se fica, mais dificuldade se tem. O treinamento vai ser um foco muito importante, é uma das estratégias chave no foco de crescimento. Nós acreditamos no minério, no projeto e no mercado em que estamos inseridos. 

BRASIL MINERAL - O projeto Boa Esperança já começou a ser implantado ou está em preparação?

ANTONIO NETO - Está em preparação. Estamos terminando a fase de alguns estudos, contratando algumas coisas, mas ainda não começamos. Estávamos esperando também passar a época de chuvas, que lá são muito intensas.

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