“Além dos conceitos de competitividade, os produtores de minerais industriais precisam pensar nas abordagens do material e do mercado final, dentro de parâmetros socioambientais, conforme demanda da nova sociedade” – a observação foi feita por Renato Ciminelli, diretor da Mercado Mineral e conselheiro da Brasil Mineral, na abertura do último dia de apresentações do 7º Encontro Nacional da Média e Pequena Mineração, realizado em Goiânia, juntamente com a Brasmin – Feira da Indústria da Mineração.
Durante a palestra “Perfil, Tendências e Análise SWOT para grandes grupos de minerais industriais com detalhamento dos sistemas minerais / mercado”, Ciminelli acentuou as mudanças ocorridas nos últimos 50 anos, afirmando existir hoje um volume de oportunidades muito interessantes – “a Europa busca novas fontes de minerais industriais”. Os movimentos de substituição de um mineral por outro também foram lembradas pelo diretor da Mercado Mineral, assim como a possibilidade de uso de matérias-primas secundárias (economia circular), tidas como importantes fontes de busca de metais valiosos; e a entrada de novos players no mercado, como ECC, Sibelco, Luzenac, Omya e Ymeris.
Dentro de sua experiência, Ciminelli acredita que nos próximos 15 anos os minerais industriais poderão movimentar R$ 1,2 bilhão, segundo as planilhas digitais históricas e atualizadas da ANM – “são oportunidades prospectadas”. Entretanto, segundo ele, é preciso estar atento quanto à possível exaustão de vários tipos de minerais e, para melhor aproveitamento dos minerais industriais, novas condições de lavra terão que ser implementadas visando a manutenção das empresas atuais.
Na sequência, Marcio Remédio, diretor de Geologia do SGB/CPRM, falou sobre a visão estratégica e os desafios do setor de minerais e rochas industriais – “estamos começando a entender a nossa importância dentro do conceito de economia circular. Podemos agregar mais valor aos minerais industriais e aos agregados de forma inteligente”.
Ele informou que no site do SGB/CPRM é possível acessar um banco de dados com informações geológicas, geoquímicas e geofísicas que podem auxiliar as pequenas e médias mineradoras no desenvolvimento de suas atividades.
A situação dos agregados para construção civil em regiões metropolitanas no contexto dos planos diretores municipais e a importância dos planos estaduais de mineração foi o tema da apresentação de Michel Marques Godoy, Chefe da Divisão de Minérios Industriais - DIMINI/SGB-CPRM.
Michel informou que o estudo do potencial de agregados teve início em 2008, com a portaria nº 222, que instituiu o Plano Nacional de Agregados, com importante papel da CPRM na definição de polos de produção e ordenamento da atividade. Desde então, foram desenvolvidos mais de 20 estudos de aproveitamento do potencial de regiões metropolitanas. Nos próximos meses o órgão fará a divulgação do Basegeo - Geologia e Recursos Minerais, uma plataforma de suporte de planejamento e gestão estratégica da exploração mineral no Brasil, que vive um paradoxo – de um lado há uma demanda da sociedade, de outro ela mesma tenta restringir a atividade.
Dentro das perspectivas do Plano Decenal SGB/CPRM 2021-2030, Godoy salientou que o órgão pretende continuar aprimorando os mapas de potencialidade mineral dos materiais de construção, rochas ornamentais, calcários, gemas e demais minerais industriais; desenvolver relatórios mais sucintos, com informações que atendam à expectativa do empreendedor; apresentar alternativas para a destinação dos descartes de mineração; fortalecer o grupo de trabalho dedicado à pequena e média mineração; e manter diálogo com os setores produtivos e legisladores para atuar como instituição conciliadora de interesses em regiões de potencial mineral.
Em curto prazo, o SGB/CPRM irá participar da elaboração dos planos diretores municipais e estaduais de mineração e continuar a expansão dos levantamentos do potencial para materiais de construção nas grandes regiões metropolitanas do Brasil. Em médio prazo, o foco será a criação do Programa de Extensionismo Mineral, em parceria com a ANM para apoio à pequena e média mineração.
Ioná de Abreu Cunha, Chefe da Divisão de Projetos Especiais e Minerais Estratégicos - DIPEME/CPRM abordou o Papel do SGB-CPRM na Avaliação Potencial para Minerais Industriais (Estratégicos e Críticos). Ela lembrou que os recursos minerais são a base do desenvolvimento social e econômico de uma nação e extremamente necessários para se alcançar os ODS definidos pela ONU e citou o Plano Nacional de Mineração 2030, que já considera, dentro do conceito de minerais estratégicos, a importância do potássio, fosfato e minerais portadores de futuro.
Os minerais estratégicos estão divididos em três classes: bens minerais dos quais o país tem alto grau de dependência externa (enxofre, minério de fosfato, minério de potássio e minério de molibdênio), que gera vulnerabilidade e risco de suprimento; os bens minerais portadores de futuro, de grande importância pela sua aplicação em produtos e processos de alta tecnologia; e os bens minerais que detêm vantagens competitivas e que são essenciais para a economia pela geração de superávit da balança comercial do Brasil.
Para garantir toda essa demanda, o desafio consiste na descoberta de novos depósitos e novas rotas tecnológicas. No último século, mais de 7.500 depósitos significativos foram descobertos, sendo a maioria ouro e metais base. Mas a taxa de descoberta de novos depósitos vem caindo ao longo dos últimos anos – o pico aconteceu em 2010, com o registro de 184 depósitos e, em 2020, as descobertas foram menos da metade de dez anos atrás. Nesse período, as despesas com exploração mineral cresceram e o retorno não acompanhou essa curva. Por esta razão o órgão tem intensificado a busca por novas tecnologias de exploração e novas rotas.
Para os minerais portadores do futuro (lítio, grafita, urânio, terras raras, cobalto e cobre) e para os insumos para agricultura (fosfato, potássio, agrominerais), o órgão vem promovendo a integração das diferentes bases de dados, a revisão dos depósitos e modelos metalogenéticos, o uso da exploração geoquímica e geofísica em todos os projetos, com o desenvolvimento da modelagem de potencial mineral em múltipla escala, a identificação de footprints, a estimativa de recursos não descobertos e a avaliação de fontes não convencionais (no caso dos agrominerais).
No caso do fosfato, a pesquisadora afirma que existe potencial no país, com recursos da ordem de 460 milhões t de P2O5. De 2009 a 2020, mais de 40 áreas foram pesquisadas e esses resultados estão disponíveis no site da CPRM. Para os próximos anos, Ioná declara que o SGB-CPRM irá investir cada vez mais em estudos prospectivos e de modelamento do potencial mineral para lítio, ETR, grafita, cobre e metais associados, urânio e insumos minerais para fertilizantes, incentivando a descoberta de novos depósitos, contando, para tanto, com a parceria com universidades, empresas serviços geológicos estaduais ou de programa de geólogo residente.
Todas as apresentações da parte da manhã do 7º Encontro Nacional da Média e Pequena Mineração, realizadas dia 26 de maio, podem ser assistidas em nosso canal no YouTube: