E o que vem depois?
O gráfico que ilustra este texto é do Fundo Monetário Internacional (FMI). Mostra o comportamento dos preços de uma cesta de commodities. No percurso da linha entre os eixos é fácil reconhecer a crise de 2008, a de 2016, e a pandemia, em 2020. É interessante notar também a força da interrupção da oferta, em especial devido à guerra na Ucrânia, que fez o preço das commodities escalar.
O Brasil e as empresas produtoras de commodities vêm surfando o momento. Mas o pico da onda já está na descendente. A alta da inflação é um fenômeno global. O FED norte-americano fala em taxas de juros ao redor dos 4%, atraindo investidores que tiram seu dinheiro dos mercados emergentes.
O mundo vive uma nova realidade: inflação alta e desaceleração econômica. Não é bom pra ninguém. E não deveria surpreender. A pandemia fechou fábricas. Cadeias de suprimentos globais não se recuperaram até agora. Componentes continuam em falta. O desemprego atinge fortemente a economia norte-americana. A irresponsabilidade militar de Putin elevou o preço da energia e dos metais de base. O motor da economia mundial nos últimos 20 anos, a China, pisou no freio.
A maré de alta dos preços vai refluir, sem dúvida. Olhando o nosso gráfico o movimento é mais ou menos intuitivo. A pergunta é: o que vem depois?
Meu palpite é que a globalização vai arrefecer. A possibilidade do uso de sanções a partir das reservas em dólar em bancos norte-americanos ajuda na busca de soluções locais. A nova guerra fria entre os EUA e a China, que todos imaginavam diminuir com o governo democrata de Biden, também cobrará o seu preço.
Com isso tudo haverá, provavelmente, uma realocação de manufaturas da China para economias avançadas, mas com impacto reduzido. A posição da China na manufatura mundial é tão sólida que não será alterada no curto prazo. De qualquer forma, o movimento deve trazer pressão sobre os custos, reduzindo o potencial de crescimento mundial.
As questões climáticas, esquecidas momentaneamente pela incredulidade diante da guerra da Ucrânia, continuam operando: eventos extremos diminuem colheitas, quebram safras e empresas, interrompem fluxos mundiais de mercadorias. A mudança para uma economia verde é mandatória e não será suave.
Em outras palavras, o futuro tal como se apresenta hoje, não parece tão brilhante.
Daí a importância das escolhas que faremos e dos desafios que iremos enfrentar para promovê-las. Vale para o Brasil, vale para as empresas, vale para as pessoas.
A realidade é fluída, incerta, mas só piora se o país não operar com um mínimo de previsibilidade de leis, de tributos, de agenda econômica. Não se pode querer que um capitalista invista quando a taxa de câmbio flutua em 50% do seu valor.
É muito importante que o Brasil encontre o seu papel em uma economia verde, digital, e que leve a cabo uma distribuição de renda que não seja um monumento à irresponsabilidade social, como falava Hobsbawn.
Mas nem tudo são sombras. A economia pode se recuperar com preços internacionais mais acomodados. E, querendo, podemos sair do outro lado mais fortes. Temos atributos: biodiversidade, riquezas naturais, terras agricultáveis, água abundante, um mercado doméstico importante. Mas precisamos tirar lições do que estamos vivendo no momento. Caso contrário, ficaremos sempre assustados com a próxima crise.