Indústria investe R$ 30 bilhões para ser supridor global confiável

12/04/2024
Programa de investimentos da ordem de R$ 30 bilhões, iniciado em 2022 e que vai até 2025 e há outros em perspectiva

 

A indústria de alumínio tem condições de ajudar o Brasil a ser um protagonista na transição energética global e pode-se firmar como um supridor confiável de “alumínio verde”, com baixa pegada de carbono e produzido de forma sustentável. Foi o que afirmaram lideranças do setor durante o 9º. Congresso Internacional do Alumínio, organizado pela Abal (Associação Brasileira do Alumínio), que aconteceu nos dias 9 e 10 de abril, em São Paulo.

Para a presidente-executiva da Abal, Janaína Dornas, “o alumínio é um material estratégico para o fortalecimento de uma indústria de base e essencial para o atendimento da demanda de mercados consumidores altamente exigentes, como embalagens, transportes, energia e construção civil. E o Brasil reúne uma série de vantagens competitivas, associadas à disponibilidade de ativos estratégicos, à verticalização da cadeia produtiva e à forte agregação de valor”.

Ela acrescente que, após ter enfrentado uma “tempestade perfeita” no passado, quando o alto custo e a baixa disponibilidade da energia levaram ao fechamento de capacidade de produção, o setor vive hoje um bom momento, apesar dos preços ainda relativamente baixos no mercado internacional. As empresas estão conduzindo um programa de investimentos da ordem de R$ 30 bilhões, iniciado em 2022 e que vai até 2025 e há outros em perspectiva. São iniciativas que englobam desde a expansão de reservas de bauxita até modernização de instalações e gestão ambiental, passando por novas instalações para produção de metal, abertura de centros de pesquisa e de atendimento ao consumidor, aproveitamento de insumos naturais como água e novas tecnologias para redução das emissões de carbono, incluindo a troca da matriz energética. Este montante de investimentos, segundo a presidente-executiva da Abal, não incluem o que deverá ser investido em longo prazo, ou seja, na abertura de novas capacidades.  

Ela lembra que há projeções do Instituto Internacional do Alumínio que indicam um crescimento da ordem de 40% na demanda global de produtos de alumínio até 2030.

“Não temos como prever hoje exatamente qual será a participação do Brasil no suprimento dessa demanda, mas sabemos que será expressiva”, afirma, ressaltando que existe uma oportunidade que deve ser aproveitada. “E como vamos aproveitar essa demanda? Com as nossas vantagens competitivas, pois temos condições de produzir o alumínio que atenda às necessidades dos mercados mais exigentes, seja em questões técnicas de qualidade ou de atendimento às preocupações que hoje existem relacionadas à questão ambiental.

Janaína lembra que hoje os mercados consumidores – dos mais diversos segmentos -- têm uma preocupação muito grande no sentido de saber de onde vem o alumínio que eles estão consumindo, de qual mina que foi extraída a bauxita, qual foi a fonte de energia utilizada, se a empresa atua segundo as melhores práticas de gestão ambiental, social e corporativa e se há algum problema relacionado com desrespeito aos direitos humanos.

“Existem instituições internacionais, como o Aluminum Stewardship Initiative, que é uma iniciativa global que partiu de uma demanda desses mercados consumidores. Assim, empresas como Apple, Jaguar e outras querem ter o controle da cadeia de suprimentos. Obviamente, há empresas produtoras operando em diferentes jurisdições, em diferentes países, e normalmente as empresas atuam seguindo a legislação ambiental regulatória daquele país. Então, essa iniciativa uniformiza a prática, utilizando como modelo ou referência as melhores práticas internacionais. Portanto, quer se esteja operando na Guiné, no Brasil ou na Austrália, para atender ao mercado consumidor precisa ter uma certificação reconhecida”, diz ela, explicando que a adoção do selo é voluntária.  Isso tem gerado uma mudança no mercado, porque existe sinalização no sentido de que os consumidores estão dispostos a pagar um preço diferenciado pelo alumínio que tenha a certificação.

A executiva da Abal acredita que a conjuntura internacional favorece novos investimentos na cadeia de produção de alumínio no Brasil. Primeiramente, porque os conflitos geopolíticos podem gerar problemas de suprimento, o que tem levado empresas a olhar oportunidades no País. É o caso da Glencore, que adquiriu participação na Hydro Alunorte, produtora de alumina, e o controle da MRN, maior produtora local de bauxita. “Há empresas abrindo mão de alguns investimentos em outras regiões, para vir investir no Brasil, o que é um indicativo de que as perspectivas são positivas”, afirma, Janaína, acrescentando que o Brasil tem ativos estratégicos, além de ser um player confiável, como país e como indústria. A Europa, diz ela, está fechando capacidade de produção de metal e não tem minério. Por isso incluiu o alumínio na lista de minerais críticos. “Se eles não têm minério, onde vão investir? Então estamos nos habilitando, como país, para atrair esses investimentos”, argumenta.

O secretário-geral do Instituto Internacional do Alumínio (IAI), Miles Prosser, também vê com otimismo o futuro do mercado de alumínio e reforçou o compromisso do setor com as questões sustentáveis e com as mudanças climáticas. “Os desafios da cadeia do alumínio estão aliados à preocupação com a sustentabilidade. Pela primeira vez, a produção global do metal aumentou 3,9%, enquanto as emissões de gases com efeito estufa (GEE) diminuíram 4,4%, resultado da implementação de processos e soluções inovadoras da indústria na transição de uma economia de baixo carbono”, disse ele, que também considera o Brasil como um supridor confiável de alumínio produzido de forma sustentável.

Por Francisco Alves

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