D epois de períodos difíceis vividos após os acidentes de Mariana e Brumadinho, nos anos de 2015 e 2019, respectivamente, seguidos de uma recuperação lenta, o setor de engenharia e consultoria mineral no Brasil parece estar vivendo hoje um momento melhor. E as perspectivas futuras se mantêm positivas A afirmação está baseada no parecer de representantes das empresas DMT (Saulo Liberato), Afry Brasil (Henrique Oliveira), AtkinsRéalis (Arley Costa), Ausenco (Leonardo Lamounier), GE21 (Porfírio Cabalero) e Tetra Tech (Leonardo Santana) que, juntos com os Conselheiros da publicação – Antenor Silva, e Kenro Matsui – mais Arão Portugal, da AP Consultoria participaram de um debate promovido pela Brasil Mineral em abril de 2024. Outras empresas, também consultadas pela revista, corroboram o entusiasmo.
Saulo Liberato, engenheiro de minas de formação e à frente da Saga Consultoria, que foi recentemente adquirida pela empresa alemã DMT, com forte atuação em mineração, energia e ESG, e ampla experiência na parte de exploração, geologia, processos, análise econômica e de viabilidade, afirma que o mercado está aquecido e que esse movimento já se percebe há algum tempo. Ele lembra que, nos anos de 2015 e 2016, os negócios no meio mineral foram fracos, ficaram praticamente estagnados, mas que hoje o cenário é totalmente oposto: “diversas Juniors Companies estão atuando no Brasil, existem projetos de expansão de grandes empresas, além de novos projetos anunciados, fatos que puxam para cima os negócios das empresas de consultoria mineral”.
Imersa num mercado global de commodities, a DMT identifica uma alta de preços, mesmo com as exceções e oscilações do lítio e níquel. Ainda assim, num contexto de médio prazo, a tendência é de alta nos preços e de maior busca por projetos também no Brasil. A transformação da matriz energética como um todo trouxe novas oportunidades ao mercado, muito ligadas a terras raras, lítio e outros minerais, ampliando o universo de trabalho das consultorias.
Henrique Oliveira, Head de Mineração e Metais da Afry Brasil, empresa que surgiu da fusão da sueca ÅF Consult, com a finlandesa Pöyry Engenharia e Consultoria, com grande vocação para tecnologia para área mineral e que está presente no Brasil há mais de 50 anos, garante que o mercado apresenta um crescimento bastante expressivo, apesar de o minério de ferro ser uma parcela importante das commodities no Brasil. No momento, a Afry vem trabalhando bastante em metais básicos, para o enfrentamento das questões de transição energética e também nas agendas ESG, áreas que têm puxado positivamente a demanda por projetos de engenharia, seja para minerais voltados à fabricação de baterias, geração de energia limpa, ou aspectos voltados ao meio ambiente, sustentabilidade, segurança e digital, onde todas as mineradoras têm como meta melhorar sua competitividade e sua produtividade. Embora alguns projetos de Capex estejam sendo revistos para melhorar a sua viabilidade, Henrique salienta que outros projetos nas áreas de níquel, lítio, ouro, cobre, assim como os projetos de Capex Sustaining, mantêm uma demanda elevada com foco em melhorias operacionais.
Arley Costa, Líder da América Latina para Inovação, Digital, Pesquisa & Desenvolvimento da AtkinsRéalis, compartilha a visão positiva do mercado. As várias agendas de NetZero, Readequação e Descarbonização reforçam os projetos de Sustaining que precisam ser adequados aos novos padrões de emissões. Além disso, grandes players do mercado estão investindo fortemente em ESG, e essa tendência deve se manter nos próximos anos. Olhando para preços futuros, Arley entende que são raros os minerais que podem ter queda. A maior parte deles, em função da transição energética e eletrificação, mantém estimativa de preços muito interessantes e isso, obviamente, fomenta o presente de novos investimentos.
A AtkinsRéalis foi fundada em 1911 e como Minerconsult atua desde o início dos anos 1990 no Brasil. Por volta de 2007 a empresa foi adquirida pela SNC-Lavalin e, com o recente rebranding, todas as empresas do Grupo se juntaram sob um único nome.
Leonardo Lamounier, Diretor de Desenvolvimento de Negócios da Ausenco no Brasil, também atesta o aquecimento do mercado, com novos projetos e oportunidades de negócios, que tornam o próximo ciclo muito promissor. O que difere o momento, em sua opinião, é que o setor está saindo um pouco dos grandes projetos e migrando para novos projetos de voltados para minerais de transição energética, onde se inserem lítio, cobre, níquel, grafite e terras raras, minerais que representam mais de 50% da composição das novas baterias de carros elétricos. “São projetos de um valor menor de Capex se comparados aos grandes projetos de minério de ferro, entretanto mais desafiadores e complexos do ponto de vista da engenharia”, diz Lamounier, acrescentando que a esses projetos se juntam ações de ESG, descarbonização e economia circular, com demandas crescentes. De origem australiana, a Ausenco atua no Brasil há pouco mais de 20 anos e possui grande presença na América Latina. Hoje são mais de 1.800 funcionários entre Brasil, Peru e Chile. A Ausenco é uma empresa de engenharia focada em Minerais e Metais.
Porfírio Cabalero Rodrigues, diretor da GE21, conta que a empresa iniciou sua operação em 2015, depois de uma crise. Entretanto, com grande experiência de mercado. Tanto Porfírio quanto um dos sócios da empresa, Mário Conrado, iniciaram a carreira na Paulo Abib Engenharia, na década de 1980. Depois atuaram na Geoexplore e na Coffey, o que soma mais de 40 anos de expertise no mercado de consultoria no Brasil. A GE21 é um Grupo formado por quatro empresas principais, que atuam nas áreas de Consultoria Mineral, Geotecnologia, Realidade Virtual (ligada às novas tecnologias) e ESG, que tem importância cada vez mais relevante no mercado de consultoria.
Veja a matéria completa na edição 438 de Brasil Mineral