Eurochem iniciará produção em Salitre em 2024

27/02/2023
Há um ano o projeto foi adquirido pela EuroChem e tem como objetivo uma produção de 1 milhão de toneladas por ano, volume que suprirá 15% do consumo interno.

 

Por Mara Fornari 

Se depender do ritmo atual de trabalho, a conclusão das obras da fase 2 do Complexo Mineroindustrial de Serra do Salitre (MG), prevista inicialmente para o primeiro trimestre de 2024, poderá se antecipar, reduzindo assim a dependência externa do Brasil por fertilizantes fosfatados. Há um ano o projeto foi adquirido pela EuroChem e tem como objetivo uma produção de 1 milhão de toneladas por ano, volume que suprirá 15% do consumo interno deste insumo. Atualmente, a mina e a planta de beneficiamento em Salitre, que já estão em operação, produzem cerca de 400 mil toneladas de concentrado fosfático por ano.

Cauteloso, Gustavo Horbach, Vice-presidente de Produção Upstream e Projetos/CapEx na América do Sul da EuroChem, prefere continuar trabalhando com o horizonte de 2024 para o startup do projeto, muito embora o cronograma das obras tenha atingido 50% três meses antes do previsto. A etapa dois consiste na implantação de plantas químicas de ácido sulfúrico e de ácido fosfórico, considerando a respectiva montagem eletromecânica, o alteamento de uma das estruturas geotécnicas e o comissionamento da instalação.

Muito embora Salitre seja a primeira unidade de mineração do Grupo EuroChem fora da Europa, o Grupo se valeu da experiência adquirida em suas outras quatro minas, além de nove plantas químicas com capacidade de produção de 20 milhões de toneladas/ano de fertilizantes para acelerar o projeto com mudanças simples de gestão, conforme explica Horbach, na entrevista que concedeu para a revista Brasil Mineral. Uma das novidades introduzidas foi o “bônus de antecipação”, uma espécie de “prêmio” concedido para as empresas contratadas e que vem tornando as decisões mais ágeis.

O CAPEX total do projeto, de US$ 1 bilhão, se manteve e foi dividido meio a meio entre a aquisição do ativo e a continuidade das obras da segunda etapa, independentemente das variações cambiais e do custo de inflação no Brasil – “o Grupo tem uma liquidez financeira que nos permite este dispêndio”, ressalta Gustavo, explicando ainda que 99,9% dos equipamentos e materiais estão sendo adquiridos no Brasil.

Os desafios, entretanto, são inerentes ao próprio projeto: “devido à pandemia, boa parte dos equipamentos ficou parada por dois anos. Apesar do bom trabalho de conservação feito pela Yara antes da nossa compra, estamos no momento realizando um trabalho de inspeção, pré-comissionamento e checagem desses equipamentos para evitar paradas no início de operação”, disse Horbach. Outro ponto crítico é a Planta de Granulação II, de tecnologia espanhola, que dificulta o desenvolvimento de trabalhos em paralelo. Ele acrescentou ainda nessa lista as discussões para a obtenção da Licença Operacional.

Por não haver um histórico de atividade mineral na Serra do Salitre, a EuroChem tem buscado desenvolver junto do SENAI e das prefeituras locais cursos com duração de três a quatro meses para a formação de operadores. Boa parte dos 800 inscritos na primeira turma vão atuar no ramp up e no startup das plantas químicas – “nosso intuito é dar oportunidades ao máximo de pessoas da região. Trabalhamos de forma integrada e temos o compromisso de atuar de maneira sustentável e contribuir com o desenvolvimento socioeconômico dos territórios onde estamos inseridos, compartilhando valor com as comunidades que nos recebem”, prossegue Horbach, salientando a longevidade do projeto.

Os planos do Grupo EuroChem para o Brasil também foram abordados por Horbach – “nossa primeira aquisição no país foi a Fertilizantes Tocantins, em 2016 (primeiro com 51% das ações. A aquisição completa foi em 2020). O Complexo Mineroindustrial de Salitre foi adquirido em setembro de 2021, com close em fevereiro de 2022 e nos permitirá colocar no mercado brasileiro mais 1 milhão de toneladas/ano de fertilizantes fosfatados”. E em março do ano passado o Grupo EuroChem adquiriu também o controle acionário indireto da Fertilizantes Heringer, comprando 51,48% das ações da companhia.

A EuroChem afirma ter fôlego para colocar no mercado brasileiro cerca de 10 milhões de toneladas por ano de fertilizantes fosfatados, nitrogenados e potássicos, suprindo assim 25% do consumo interno anual de 40 milhões de toneladas de fertilizantes em geral, “o que nos faz um player muito importante e que mostra a estratégia da EuroChem para o Brasil. Nosso apetite por aquisições e ativos é grande no país e estamos de olho em oportunidades que façam sentido”, reforçou Horbach.

Quanto à continuidade do Programa Nacional de Fertilizantes pelo atual Governo, o Vice-presidente de Produção Upstream e Projetos/CapEx na América do Sul da EuroChem classifica que o projeto Salitre está alinhado à estratégia do país de reduzir a dependência externa de fertilizantes, o que se dará a “longuíssimo prazo” e com a parceria com a iniciativa privada: “a nossa produção de fertilizantes fosfatados para o mercado nacional representará 15% do consumo interno, o que reduzirá a dependência das importações deste insumo e fortalecerá a competitividade do agronegócio no país”.

Outra novidade que o Grupo EuroChem está estudando para o Complexo Mineroindustrial de Salite é o reaproveitamento dos resíduos. O processo de produção do ácido fosfórico gera gesso como coproduto (1,2 milhão t/ano), muito empregado para a correção de pH do solo e também na produção de placas cartonadas de gesso. Na parte de rejeitos, Horbach destaca que estudos de rotas tecnológicas estão em curso para o aproveitamento de metais e da sobra de fósforo. Por conta de Salitre, a EuroChem construiu um Centro de Pesquisa e Desenvolvimento para fosfatos, em Israel, com o objetivo de desenvolver tecnologias disruptivas para o mercado mundial de fertilizantes fosfatados e também reduzir um importante passivo ambiental.

Além destes temas, Horbach explicou ainda que o escoamento da produção de Salitre será efetuado por modal rodoviário, ressaltou a segurança da barragem – construída a jusante – e salientou as metas de Diversidade, Equidade & Inclusão, além da estratégia de ESG do Grupo. Para ver como foi essa conversa, assista:

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