Anglo American quer novos destinos para o rejeito de níquel

06/11/2023
Objetivo é desenvolver uma rota híbrida que combina o atual processo de pirometalurgia com um processo de tratamento de minérios marginais e ferruginosos.

Mara Fornari

A história começa em 2020, durante os primeiros meses da pandemia COVID-19. Mas se formaliza apenas em abril de 2022, após publicação no Diário Oficial da União (DOU), quando o acordo de cooperação técnica e científica entre a Anglo American e o Instituto de Química da Universidade Federal de Goiás (IQ/ UFG) se torna oficial. Estamos falando do projeto de pesquisa denominado "Otimização do Processo de Lixiviação Ácida Atmosférica em Planta Piloto dos Minérios Ferruginoso e Ácido Marginal", que recebeu investimentos da ordem de R$ 1 milhão e tem validade prevista para outubro de 2024. Seu objetivo é desenvolver uma rota híbrida inédita no negócio de níquel, que combina o atual processo de pirometalurgia (rotary kilns - electric furnaces) com um processo de tratamento de minérios marginais e ferruginosos, por meio de uma rota hidrometalúrgica, garantindo assim melhor aproveitamento para os minérios extraídos na unidade industrial de Barro Alto.

Estes minérios, existentes na mina da Anglo American em seu negócio de níquel, no estado de Goiás, não são apropriados para processamento direto no processo atualmente empregado. Esta combinação permitirá o emprego destes minérios para incrementar a produção de ferroníquel, além da possibilidade de gerar subprodutos como concentrados de cobre, cobalto e manganês.

Com os testes realizados na planta piloto de lixiviação instalada no Instituto de Química da Universidade Federal de Goiás (IQ-UFG), campus Samambaia, a expectativa é simular o processo em maior escala e consolidar a viabilidade desta alternativa, tanto tecnicamente como financeiramente, proporcionando o aumento de produção e possível extensão do tempo de operação dos negócios de níquel da Anglo American. Ao final do projeto os equipamentos serão doados ao IQ.

Além de oferecer soluções para a unidade de negócios em níquel da Anglo American, o projeto também busca, por meio da parceria com a UFG, contribuir para o desenvolvimento de profissionais com conhecimento em mineração, que poderão ser empregados não apenas na Anglo American, como também em outras mineradoras; para a adequação da infraestrutura laboratorial e da capacidade de realização de projetos de pesquisa e inovação tecnológica voltados à área mineral na UFG; e para o desenvolvimento de soluções tecnológicas sustentáveis e o compromisso com o desenvolvimento econômico e social das comunidades anfitriãs.

Os períodos de testes em laboratório apresentaram resultados bem-sucedidos para extração do níquel e de outros metais de interesse. Depois, foi iniciada a fase de testes em escala piloto, realizados no período de outubro de 2022 a março de 2023, os quais confirmaram os resultados satisfatórios obtidos em laboratório. Com a conclusão desta primeira fase de testes, foram realizados outros testes de otimização na planta piloto, visando à redução de consumo de alguns insumos para melhorar ainda mais os resultados.

A Anglo American estuda agora a possibilidade de implantar uma planta demonstrativa em escala industrial, para demonstração da rota de beneficiamento hidrometalúrgico.

Metais de interesse

A produção de níquel da Anglo American, realizada nas plantas de Barro Alto e Niquelândia, ambas localizadas no estado de Goiás, é de extrema importância para o mercado minerário brasileiro e mundial. Ocorre que o teor de níquel identificado no processo de produção vai apresentando tendência de queda ao longo dos anos, o que tem levado a empresa a realizar estudos que visam o aprimoramento tecnológico do processo atualmente utilizado, como forma de estabelecer soluções satisfatórias para recuperação metalúrgica e aumentar o teor de níquel em sua produção.

Assim sendo, a Anglo American promoveu estudos que resultaram no presente projeto, que possui como escopo o aprimoramento do processo atual de produção por meio do desenvolvimento de uma rota hidrometalúrgica inovadora, que será acoplada ao processo atual pirometalúrgico, com o objetivo de permitir o aproveitamento de minérios marginais e ferruginosos, e, consequentemente, aumentar o teor da produção de níquel, além de permitir a obtenção de novos subprodutos (cobalto, cobre, escândio, manganês e magnésio).

Parte do minério lavrado na mina de Barro Alto (GO) possui teor de níquel acima do cut-off (teor de corte), porém não é usado no processo pirometalúrgico. Esse recurso é o alvo do projeto, por ter características apropriadas para processamento em rotas hidrometalúrgicas e, por meio dos resultados obtidos no projeto de pesquisa em desenvolvimento, será possível processá-lo melhorando o aproveitamento das reservas da companhia.

As rotas de processo em desenvolvimento, na área de tratamento de minérios lateríticos por via hidrometalúrgica, visam prioritariamente as extrações de níquel e de cobalto presentes nestes minérios. Porém, além desses metais, a empresa está desenvolvendo estudos para obtenção de outros subprodutos como cobre, manganês e magnésio.

Veja a matéria completa na edição 434 de Brasil Mineral