Encontro debate impacto da transição energética nos projetos minerais
A sede da Abimaq, em São Paulo, foi palco do 9º Encontro de Executivos do Setor Mineral, realizado pela ADIMB, que teve como tema “O Impacto da Transição Energética no Desenvolvimento de Projetos Minerais no Brasil: do depósito ao produto mineral”. As discussões foram conduzidas por Marcos André Gonçalves, presidente da entidade.
Abrindo os trabalhos, José Veloso, Presidente Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos), disse que não há indústria sem a pesquisa mineral e sem o desenvolvimento de novos materiais. O Brasil enfrenta grave problema de competitividade para se industrializar e uma grande oportunidade para modificar esse cenário é se aproveitar das vantagens comparativas na indústria energética e dos bens minerais em abundância no País.
Ana Paula Lima Vieira Bittencourt, Diretora do Departamento de Desenvolvimento Sustentável na Mineração na Secretaria Nacional de Geologia, Mineração e Transformação Mineral do Ministério de Minas e Energia, falou sobre o impacto da transição energética na mineração no Brasil. Ela entende que o País vive uma oportunidade com os minerais estratégicos e que cabe ao poder público a estruturação de políticas que tragam benefícios ao setor como um todo. Ana Paula anunciou ainda que o SGB vem se estruturando para fazer o lançamento do Plangeo, instrumento de estratégia e planejamento geológico que foi aberto à consulta pública – “esperamos maior participação do setor e de toda a cadeia de insumos na definição da estratégia de planejamento e mapeamento geológico, com foco nos minerais estratégicos”.
Raul Jungmann, Diretor Presidente do IBRAM (Instituto Brasileiro de Mineração), disse que o Brasil tem um passaporte para o futuro na questão dos minerais estratégicos, pelos bens dos quais dispõe. O mundo não tem condições de enfrentar o desafio da descarbonização sem contar com os minerais e o Brasil ocupa posição chave nessa questão. Mas para chegar lá é preciso resolver gargalos importantes como problemas regulatórios, de licenciamento e de investimentos – o setor bancário tem investido no setor privado brasileiro cerca de R$ 2,1trilhões, sendo 0,19% disso na mineração.
Mauro Souza, Diretor da Agência Nacional de Mineração (ANM), disse que o setor vem se reunindo de forma mais assertiva para uma mineração sustentável e que a atividade tem o poder de transformar a sociedade. Carlos Borel, Vice-presidente da Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM), lembrou que a mineração no estado da Bahia tem condições de colaborar para uma transição de baixo carbono.
Para Luís Mauricio Azevedo, Presidente da Associação Brasileira das Empresas de Pesquisa Mineral e Mineração (ABPM), o Brasil não tem que se envergonhar de ser um exportador de commodities, mas deve se dar o direito de beneficiar em solo nacional essas commodities de forma eficiente e competitiva, reunindo condições que propiciem à indústria se beneficiar disso. Na pauta de minerais críticos, Luís Mauricio afirma que o Governo Federal tem ouvido o setor e que as condições de desenvolvimento se mostram favoráveis. Mas ainda falta uma agência forte para encurtar esses caminhos.
Luciano Siani Pires, Senior Advisor da Accenture e membro do Conselho da Vallourec e Construtora Barbosa Melo, abordou o “Panorama Global da Mineração e o Posicionamento do Brasil”, afirmando que a transição energética é a maior ordem de compra já colocada para a mineração em toda a sua história – significa o fim de uma era na indústria da mineração (da urbanização da China) e o início de outra era, a dos minerais estratégicos, onde a demanda irá multiplicar o fator de produção especialmente do lítio, terras raras, níquel, cobalto e grafita.
Daniel Carvalho, Global Research Director, Metals and Mininig Processing da Wood Mackenzie, de forma remota, falou sobre a “Transição energética: virada decisiva para os investimentos em metais e mineração?”, destacando que os investimentos necessários para a transição para uma economia de baixo carbono, que aumenta a dependência por minerais críticos/estratégicos e a volatilidade de preços continuará sendo fator decisivo para o investimento nessas commodities. Para alcançar o NET ZERO, os esforços precisam estar concentrados em cinco pilares fundamentais: a coordenação dos esforços de forma global e integrada; políticas alinhadas para garantir o suprimento necessário; fomentar a economia circular; investir em tecnologia; e mudar a má reputação do setor de mineração.
A oportunidade da transição energética nos segmentos de metais básicos – mercados e competitividade de custos foi o tema da apresentação de Marcio Goto, Business Development, Latin America da Project Blue, que focou especialmente o comportamento do cobre e do níquel. Quanto ao cobre, existe uma expectativa de aumento de demanda de 2,2% ao ano, o que significaria a necessidade de 3,5 novas minas por ano. De todos os projetos já anunciados ao mercado, 60% deles já atenderiam a nova demanda prevista.
Quanto ao níquel, o principal mercado previsto para o futuro é o de baterias. Existe uma demanda projetada de expansão de 4,7% ao ano, o que corresponde a seis novas minas novas por ano. Segundo estudos da Project Blue, há um déficit previsto a partir de 2031 em termos de oferta e balanço. O Brasil tem hoje um dos maiores custos de níquel sulfeto em razão de baixos teores, problemas de logística, e teores de difícil recuperação, entre outros aspectos.
Pedro Paulo Dias Mesquita, Gerente de Inteligência de Mercado de Mineração e Transformação Mineral do BNDES, falou sobre o Financiamento de projetos de pesquisa dos minerais da transição energética. Além de um grande financiador, o BNDES é também um grande investidor por meio de participações na estruturação de projetos – “incentivar a inovação, o desenvolvimento regional e o desenvolvimento socioambiental são as nossas prioridades”, disse ele. No final de 2023, as cotas de fundos de investimentos do BNDES eram de quase R$ 4 bilhões e o setor mineral tende a aumentar esses valores.
O apoio à agenda dos minerais estratégicos está inserido de forma mais direta em três missões de políticas industriais, além de aparecer de forma clara em dois objetivos da agenda estratégica do banco, como a adição de capacidade produtiva.
No fundo voltado à exploração mineral e desenvolvimento de mina, o BNDES é acionista âncora. Dados do último relatório de Exploração Mineral de Não-Ferrosos (2023) mostra que as junior companies são responsáveis por 42% dos investimentos em exploração em não-ferrosos, ou 55% dos investimentos para novas minas em nível mundial. No Brasil, 75 empresas juniores são listadas em bolsas internacionais com ativos no Brasil; mais de 340 são detentoras de requerimentos de lavra de minerais estratégicos, com mais de 3.500 titulares de alvarás de pesquisa. Segundo Pedro Paulo, o maior desafio hoje é captar recursos diante da baixa presença da mineração no mercado de capitais brasileiro.
Na sequência, Rafael da Silveira Leão, da Diretoria de Estudos e Políticas Setoriais de Inovação e Infraestrutura do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Diset/IPEA) e José Luciano de Assis Pereira, gerente de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação do Centro de Inovação e Tecnologia do SENAI-MG, apresentaram, respectivamente, as palestras: “O posicionamento do Brasil no comércio internacional de minerais críticos para a transição energética” e os “Avanços tecnológicos em projetos de minerais estratégicos”.
Fazendo uma síntese das apresentações, Marcos André Gonçalves, da ADIMB, reforçou que não importa em qual parte da cadeia mineral os atores do setor estejam, seja em pesquisa mineral, processamento ou metalurgia, o sucesso da indústria mineral depende do esforço de todos. Dentro do conceito de oportunidades que a transição energética traz para o Brasil, uma série de características foge do conhecimento de muitos na forma de atuar na rotina do trabalho. Gonçalves também pontuou iniciativas como a da realocação de recursos na indústria de óleo e gás, que hoje se posiciona como uma empresa de soluções de energia, transformando a comunicação, por exemplo. E se mostrou esperançoso quanto a um plano nacional específico para minerais críticos para um futuro breve, antes do 10º Encontro de Executivos do Setor Mineral, que acontecerá em Brasília, no próximo ano. (Por Mara Fornari)