O ESG na formação de recursos humanos para o setor mineral - Parte II

07/05/2023
Por Maria José Gazzi Salum

I – Introdução

Retomando o início do artigo anterior, publicado na edição nº 427 de março: “por sua pluralidade, fases de desenvolvimento (da pesquisa mineral ao fechamento de mina), diversidade de porte e de processos dos empreendimentos, responsabilidades sociais e ambientais, o setor mineral demanda uma grande confluência de conhecimentos, expertises e, portanto, uma diversidade de profissionais. Da geologia e engenharia de minas, bases do conhecimento mineral, aos profissionais de diferentes modalidades da engenharia, ciências humanas e sociais, entre outros, todos têm um papel relevante a cumprir dentro de uma mineração moderna, dentro dos pilares de um empreendimento ESG”.

Fica claro, portanto, que abordar o papel da formação de recursos humanos voltados para o ESG como um importante pilar para que um empreendimento de mineração cumpra com os requisitos ambientais, sociais e de governança, ESG, é plural e, como tal, um desafio.

Como já explicitado, na Parte I deste artigo, o ESG é mais do que uma listagem de ações sociais e ambientais de uma empresa, de cumprimento com compromissos anticorrupção, das legislações em vigor, de proteção à saúde e segurança ocupacional dos seus trabalhadores e respeito aos direitos humanos. Em uma empresa ESG todos esses aspectos têm que estar claramente demonstrados de forma integrada: no projeto técnico, na gestão administrativa e na gestão corporativa do empreendimento mineiro. Em outras palavras, para “fazer ESG” é preciso “pensar ESG”.

Passa-se, nesse contexto, a apresentar duas das diversas possibilidades de inserção de ESG na formação de recursos humanos para a mineração, sem que se pretenda esgotar o assunto, o que é uma boa forma de suscitar o debate.

II. A inserção do ESG na formação acadêmica de recursos humanos para o setor mineral

Os conceitos gerais do ESG, bem como de outras vertentes socioambientais e de governança, como os Princípios do Equador, Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, entre outros, todos eles orbitando em torno da palavra sustentabilidade, passaram a ser uma variável importante na formação de profissionais de qualquer área do conhecimento, visto que o tema é moderno e amplamente aplicável.

Para efeito deste artigo, entretanto, será dado foco às formações acadêmicas dos profissionais diretamente vinculados ao setor, mais especificamente geólogos e engenheiros de minas. Os demais profissionais que atuam na mineração serão incorporados a uma proposta mais generalizada de formação de recursos humanos em ESG para a mineração, a ser apresentada mais à frente.

II.1. Inserção do ESG na Formação Acadêmica dos Profissionais de Nível Superior Diretamente Vinculados ao Setor Mineral

Inicialmente, é preciso reconhecer que a inserção do ESG nos currículos acadêmicos da formação de recursos humanos diretamente vinculados ao setor mineral não se fará por meio de disciplinas isoladas sobre o tema. O ESG requer uma visão holística da atividade mineral, desde a pesquisa mineral até o fechamento de mina. Logo, a primeira questão a ser colocada é a necessidade de que conceitos ESG, conteúdos sociais e ambientais sejam inseridos transversalmente nos currículos e não como disciplina isolada.

A ineficiência do conhecimento compartimentalizado, sob a forma de disciplinas isoladas, na formação de profissionais da engenharia de minas e da geologia ou de outras áreas do conhecimento, para que eles adquiram as habilidades e competências necessárias ao exercício profissional, já é discutida há mais de duas décadas nos meios acadêmicos e não seria diferente quando da incorporação do ESG às suas formações. Essa necessidade de integrar conhecimentos para um aprendizado com base na aquisição de habilidades e competências profissional foi reiterada pela Organização das Nações Unidas - ONU, no documento: Década da Educação Para o Desenvolvimento Sustentável: 2005 – 2014, da seguinte forma: “Ser interdisciplinar e holística: ensinar desenvolvimento sustentável de forma integrada em todo o currículo, não como disciplina a parte”, o que coaduna perfeitamente com a proposta de inserção de conteúdos ESG de forma transversal nos currículos de geologia e engenharia de minas.

Passa-se a seguir a uma análise da formação acadêmica de geólogos e engenheiros de minas sob a ótica do ESG.

Leia a matéria completa na edição 428 de Brasil Mineral