ROCHAS ORNAMENTAIS

Estudo sobre destino adequado aos resíduos

11/05/2017

 

Em dissertação de mestrado, o aluno Jeferson dos Santos, sob orientação do professor Fernando Galembeck, apresentou no Instituto de Química (IQ) da Unicamp, estudo para dar uma destinação correta para rochas ornamentais, como granitos, mármores, ardósias, serpentinitos e quartzitos. Todas essas rochas são transformadas em pias, pisos e revestimentos utilizados em casas, prédios, altares e túmulos. “Uma motivação para a pesquisa é que nossa família possui uma marmoraria em Salto [SP], cidade com forte tradição nessa atividade. Meu pai está com 83 anos e trabalha com rochas desde os 13”. “Sempre ajudei na marmoraria, que agora administro, e me incomodava ver tanto material sendo jogado fora por falta de utilidade”. 
 
Jeferson explica que granitos e mármores dominam o mercado de rochas ornamentais. Para sua pesquisa, ele escolheu o granito “cinza corumbá”, que apresenta uma constituição mineralógica mais padronizada, possibilitando melhor análise de suas variáveis para se chegar a uma aplicação desejada. “A primeira parte da pesquisa foi de caracterização do pó gerado no corte e também do pó da britagem do granito “cinza corumbá”, a fim de estudar a influência desses processos mecânicos na composição e quantidade dos minerais presentes em frações de granulometria diferentes das duas amostras”. Segundo o pesquisador, tanto o resíduo do corte como da britagem são constituídos dos mesmos minerais, mas apresentam propriedades superficiais diferentes – características decisivas para o desenvolvimento de aplicações. “Trabalhei com um conceito atual e importante, a mecanoquímica, que procura responder a uma questão básica: se um processo mecânico (no caso, corte ou britagem) pode transformar quimicamente um material”. 
 
Jeferson encontrou mica, quartzo e feldspato tanto no pó do corte como no da britagem. “A diferença está na proporção de minerais em frações de tamanhos diferentes. O pó do corte, por exemplo, contém mais feldspato (em frações mais finas) e poderia ser usado na fabricação de cerâmica; já o resíduo de brita, por ter mais quartzo, serviria à indústria de abrasivos (trata-se de um minério duro e piezoelétrico, ou seja, quando uma força lhe é aplicada, gera corrente elétrica)”. 
 
Santos realizou testes com azul de metileno, simulando o tratamento do efluente de uma indústria que utilize corantes, por exemplo. “Com o pó do corte de granito, consegui uma eficiência de 30% na adsorção do corante, enquanto o resíduo de britagem apresentou 93%. Isso significa que a atividade mecânica produziu materiais diferentes, não só na constituição como na superfície. Na verdade, surgiu um contaminante inesperado no processo de britagem e o resultado foi um material que não adsorve a água (hidrofóbico), ao passo que o pó do corte encharca. Foi a cereja do bolo neste projeto”. 
 
Durante o processo de utilização das rochas ornamentais para fabricação de pias, pisos e revestimentos, pode ocorrer até 80% de perda das rochas originais, desde a extração no maciço (lavra), passando pelo corte, até o polimento. O Brasil é o quinto maior exportador mundial de rochas ornamentais, com 3,3 milhões de toneladas em 2015, sendo os Estados Unidos o importador principal; já o mercado interno consumiu 6,2 milhões de toneladas, com o Espírito Santo respondendo pela metade da produção.